quinta-feira, 12 de novembro de 2015

Tendências Literárias Étnico-Raciais

Sou uma devoradora de livros e uma contadora de histórias na escola onde trabalho. Por isso, para mim, foi importante aprender sobre as tendências literárias étnico-raciais.  No nosso trabalho como educadoras muitas vezes percebemos e tratamos de forma superficial o racismo, os preconceitos e utilizamos uma maneira simplória de ver e tratar uma cultura. Perceber isso me fez escolher com mais cuidado os livros que abordam o assunto. E assim como descobrimos que existem vários conceitos de infância, aprendemos também, que existem diversas formas de conceituar a infância. E mais do que isso, a perceber a criança como um ser ativo e capaz de influir no mundo em que vivemos de forma econômica, política e social. Um ser de quem se constroem modelos de desenvolvimento e aprendizagens idealizados e idealizantes, que não conseguem limitar suas potencialidades e capacidades.

Primeira Tendência: As diferenças étnico-raciais são apresentadas através de situações conflitantes que envolvem racismo e preconceitos. Durante a história, o conflito vai sendo superado,o que sugere o respeito e a aceitação do “diferente” pelo leitor que pode aprender a lidar com o preconceito. 

Segunda Tendência: A trama central da história não é o conflito racial, mas a diversidade está presente na narrativa, de forma estética, cultural, ancestral... A questão racial está diluída na estética da história.

Terceira Tendência: São histórias onde a diversidade étnica e cultural é tratada como uma celebração das diferenças. A temática racial se mistura na abordagem dedicada às questões mais amplas da diversidade como um todo.


Felicidade Não Tem Cor, de Júlio Emílio Braz. O menino Fael sofre bullying por ser negro e vive isolado, até encontrar uma boneca da mesma cor que ele, Maria Mariô. A boneca é a única que o entende. Seu ídolo é Michael Jackson, que sabe a fórmula para ser branco. Boneca e menino saem em busca de um locutor da rádio que toca as músicas do cantor. O objetivo? Descobrir o endereço de Michael e sua fórmula. Para isso, Fael vai até a rádio, conhecer o famoso locutor Cid Bandalheira, que toca as músicas do ídolo de Fael, e para surpresa dele, é negro e cadeirante. A partir daí, Fael muda seu próprio jeito de ver a vida e sua cor. A história é deliciosa e ensina a lidar com o preconceito (primeira tendência).


O Colecionador De Pedras, de Prisca Agustoni: É a história do menino Ambayê, um menino que sabia transformar os desertos. Ambayê anda pelo caminho de terra vermelha, a procura de pedras... Um dia, ele encontra Noêmia, que vive só e triste desde que sua tribo foi despovoada. Pelos olhos de Ambayê, vemos não apenas a natureza da África, mas um outro olhar sobre o mundo. As crianças vivenciam a história e começam a perceber que existem outras formas de viver e de ser. Ambayê fala de amizade e coleciona leitores. É uma de minhas histórias preferidas, fez parte do projeto As Aventuras do Avião Vermelho, que fiz no Maternal 2, da EMEI Marzico em 2013. Penso que se encaixa na segunda tendência, porque trata ainda que de forma sutil, do que acontece no continente africano, de guerras, de solidão. Nos faz perceber a importância do “outro” e do “ser” diferente em nossas vidas.



Tudo Bem Ser Diferente, de Todd Parr: Tudo bem ser diferente, trabalha de maneira divertida e abrangente, com assuntos da diversidade: Adoção, separação dos pais, deficiências físicas, alimentação, formas de vestir, preconceitos raciais. As crianças começam a perceber as diferenças entre elas e aprendem a lidar com essas diferenças. As crianças também adoram o colorido das ilustrações e as possibilidades para atividades são infindas... Definitivamente, terceira tendência.


http://www.reveduc.ufscar.br/index.php/reveduc/article/view/1111

quarta-feira, 11 de novembro de 2015

Infância Roubada


A foto é da menina Thylane Blondeau, de 10 anos de idade, para o ensaio de uma revista francesa de moda internacional. A imagem tem um forte apelo de sensualidade com toques de ingenuidade. Como se quisesse provocar o desejo pela inocência. Ao mesmo tempo, em que a menina vestida de mulher, faz pose e olhar sensual, usa um vestido com decote profundo, sandália de salto alto, bijuteria exagerada e cheia de fetiche no decote e nos tornozelos, está deitada sobre tecidos de feras selvagens, ela está acariciando dois coelhinhos "fofos", que inspiram um toque de pureza à foto. É uma menina vestida de mulher. Uma menina que quer ser mulher e ainda é menina.
    O retrato de uma inocência nem tão inocente. Mas uma inocência que vende, e vende muito. A menina vende erotismo e muito mais, o que Thylane vende na verdade, é a imagem da mulher que gosta de dinheiro, luxo, ouro e jóias e está disposta a tudo para isso. Até mesmo ser domada como uma fera. É uma distorção do que é e do que quer a mulher de fato. Uma distorção de gênero e de sexualidade. É isso que significa ser feminina e mulher? Thylane vende sensualidade, juventude e beleza. E se as fotos foram feitas pela revista, é porque o mundo adulto quer essa imagem e mais do que isso, o que ela vende e representa: Um ideal. 
    No entanto, olhando a foto da criança, temos a certeza de que o mundo adulto está obscurecendo a infância com seus padrões estéticos e econômicos. Mas se pararmos para tentar entender a foto, para enxergar além do que os olhos veem, talvez a gente chegue a conclusão, de que é da infância que a vida adulta está roubando seus padrões de aparência e comportamento. A sexualidade precoce e forçada de Thylane, somada ao gênero de feminino distorcido que traz a foto, talvez represente uma característica típica da sociedade contemporânea, a vontade de não crescer, de sermos eternamente crianças, jovens e belos. Como se a Terra do Nunca fosse aqui e estivesse a nosso alcance. Ainda que para chegar lá seja preciso mais que o pó de prilimpimpim. Nem que para isso tenhamos que roubar a infância.

domingo, 8 de novembro de 2015

Modernidade Pedagógica



As transformações sociais e as políticas públicas sempre andaram junto com a educação. No Brasil, a urbanização e o crescimento das cidades forçaram as políticas públicas a buscar uma escolarização de espírito moderno. Uma modernidade que garantisse instrução, saúde, moradia, segurança... Ainda que esse espírito moderno significasse varrer a pobreza para longe da cidade. A escola foi deixando de ser uma extensão da família, deixando de existir em pequenas casas e núcleos, para existir em grandes centros de estudo. Mais uma vez, a finalidade da educação não era a de apenas educar e instruir seus alunos de acordo com as necessidades do governo, da política e da economia. Novamente, as escolas ou centros de estudo serviram como moldes de comportamento. Contraditoriamente, foi na escola que as classes menos favorecidas, negros, operários e imigrantes fizeram sua resistência. E ainda que a política determinasse o rumo seguido pela escola, foi durante a construção dessa modernidade pedagógica, que começou a surgir uma real qualificação e organização dos professores e da escola no Brasil. A escola foi assim construindo lentamente sua identidade até os nossos dias, ainda que essa identidade tenha sido forjada pelas políticas públicas.

“Quando optamos pelos (des)encantos da modernidade pedagógica, pretendíamos vislumbrar a resistência e a diversidade para além da construção dos espaços da cidade e da escola como produção/reprodução de controle e de opressão. As cidades são espaços de contradição, de luta, de criação de novos desejos, de negação da unitelaridade da História. Assim também consideramos a escola.”(pág.394)

Depois de ler o texto (Des)Encantos da Modernidade Pedagógica, de Clarice Nunes, somos forçados a pensar e repensar em uma nova forma de educar e mais do que isso, em nossa própria forma de educar. Pensar em uma nova forma de escolarização, que tenha como prioridade as necessidades da criança, onde o poder e as políticas públicas sigam essas necessidades e não o contrário. Pode parecer utópico acreditar nisso, mas o que seremos senão acreditarmos numa escola que transforma e numa sociedade mais justa para todos?

     
                www.youtube.com/watch?v=blw9t4RBITU             
               www.youtube.com/watch?v=EcW8BXA8wyE