domingo, 24 de junho de 2018

Inovação Pedagógica


        Na interdisciplina de Tecnologias da Informação e da Comunicação dialogamos diversas vezes sobre o tema educação e tecnologias, sempre tratando de conceitos que possam sustentar metodologias, projetos e práticas inovadoras em sala de aula. Inovação pedagógica significa ruptura, protagonismo, mudança, reconfiguração, recriação, reflexão, reorganização, perspectiva, construção, elaboração e transformação. Inovação pedagógica significa essencialmente: trazer o novo.
           O desafio de trazer o novo e o uso da tecnologia de uma forma mais ampla e real em nosso projetos e planejamentos de atividades nos fez sair de uma zona de conforto e impôs reflexões importantes sobre nossa forma de pensar o fazer pedagógico.
          No lugar do desconforto inicial surgiu para nós a certeza de que inovar não significa descartar a forma como pensamos e planejamos nosso trabalho ou a metodologia que acreditamos ser mais viável em nossas escolas, mas sim, problematizar essas práticas, mantendo o que é significativo com a possibilidade de redimensionar a forma de construção do conhecimento utilizando as TICs.
         Descobrimos também que a aparente falta de recursos não pode ser vir como desculpa para evitar a inovação. Ainda que não haja recursos tecnológicos na escola como gostaríamos ou necessitamos, há sempre uma maneira para a utilização e a criação de novos caminhos. A inovação pedagógica é antes de tudo uma atitude.

“A inovação não se decreta. A inovação não se impõe. A inovação não é um produto. É um processo. Uma atitude. É uma maneira de ser e estar na educação.” (NÓVOA apud CARDOSO, 2003, p.4)

Características para identificar a inovação pedagógica:
- Provoca ruptura com a forma tradicional de ensino propondo mudança.
- Prioriza o protagonismo dos envolvidos na experiência de aprendizagem;
-Reconfigura e equilibra igualmente a importância dos saberes popular e científico;
-Reorganiza a relação entre teoria e prática porque reconhece que uma não vem antes da outra porque são indissociáveis e caminham juntas;
-Traz uma perspectiva orgânica de construção no processo de concepção, desenvolvimento e avaliação da experiência.


REFERÊNCIA:

CUNHA, M. I. Inovações pedagógicas e a reconfiguração e saberes no ensinar e no aprender na universidade. Anais... VIII Congresso Luso-Afro-Brasileiro de Ciências Sociais. Coimbra, Portugal, 2004, p. 1-16. 


domingo, 17 de junho de 2018

A avaliação como forma de reflexão

              

         A avaliação deve ser diagnóstica, buscando um olhar que valorize a aprendizagem e a construção de conhecimento da cada um, estimuladora dos avanços, mediadora para criar condições de aprendizagem, reconhecedora dos acertos e das dificuldades sem ser seletiva, exclusiva, limitadora, ameaçadora, carimbadora, reducionista e classificatória dos saberes. Não há motivo para reduzir o aluno àquilo que ele não sabe, não consegue, nem de compará-lo ao colega que faz e aprende de forma diferente dele. Reduzir o aluno à um padrão de desenvolvimento é reduzir todo o processo de ensino à um único resultado ou observação.
Na Educação Infantil avaliamos o aluno de forma global, em sua trajetória da aprendizagem durante todo o processo de construção de conhecimentos e desenvolvimento das mais diferentes linguagens e formas de expressão. A avaliação não é o fim, mas o percurso, a caminhada, o trajeto percorrido pelo aluno. No lugar do boletim, temos o portfólio, que é a reunião dos trabalhos produzidos pelas crianças e a materialização do aprendido e construído. Nem sempre este aprendizado ou forma de expressão é exposto em folhas ou registrado por fotos. Por isso, o registro escrito diariamente pelo professor e pelos educadores envolvidos na observação do aluno, são fontes fundamentais do olhar sobre como a criança aprende e se desenvolve.
Além do caderno do professor, temos um caderno com o nome de cada criança, onde toda a equipe pode acrescentar algo que lhe chame atenção ou indique um caminho. Pode ser uma fala interessante, algo expressado pela criança, uma troca, uma dúvida, uma preferência, suas brincadeiras, seus amigos mais chegados, sua forma de interagir. Não observamos apenas os aspectos cognitivos, mas a afetividade, as habilidades e os interesses e desinteresses das crianças. Esse registro “do aluno” é alicerce para sua avaliação e é feito cotidianamente. Isso nos proporciona uma visão mais ampla sobre a criança e não apenas a visão unilateral e solitária do professor.
A avaliação torna-se assim, um conjunto, a soma de olhares e se fundamenta no diálogo. É sempre a criança que nos aponta e direciona o caminho, não apenas quando participa do proposto, mas também quando não está envolvida, porque a negação da criança é seta para mudança de percurso e novos caminhos. A avaliação não é só sobre o aluno, mas revela o trabalho do professor, expõe intencionalidade e veracidade da proposta do projeto. Ao escrever sobre o aluno, o professor escreve sobre si mesmo e sobre sua atuação e capacidades.
O principal retorno de aprendizagem e indicador de que o aluno está aprendendo e compartilhando saberes, está no interesse das crianças durante as atividades, em suas falas, perguntas, comentários e contribuições. A avaliação na educação infantil é reflexão e modo de escuta. É a percepção do aluno e sobre o aluno que nos faz perceber nós mesmos e nossa prática. A avaliação revela o que é e o que pode ser. 


domingo, 10 de junho de 2018

A Coerência dos Temas Geradores

"É fundamental diminuir a distância entre aquilo que se diz e aquilo que se faz. De tal maneira que num dado momento, a tua fala seja a tua prática." (Paulo Freire)

O semestre está quase terminando e mais uma vez vamos nos apercebendo da importância da interdisciplinaridade e de como o diálogo e a costura entre as disciplinas que nos são oferecidas, são essenciais para nossa aprendizagem. Os assuntos abordados podem ser os mesmos, mas sempre tratados e orientados de forma diferente o que amplia nossa visão sobre os tópicos e exercita nosso olhar de uma forma abrangente tanto para nosso estudo, quanto para nosso trabalho. É o caso da obra e da proposta pedagógica de Paulo Freire que acabou por permear as interdisciplinas de EJA e Didática e Planejamento.  
O tema gerador estimula a troca de saberes através do diálogo que respeita o sujeito e sua visão do mundo, rompendo com os modelos tradicionais de Pedagogia, onde o aluno aprende tudo com o professor. Para Freire, todo o ser humano é detentor de conhecimentos significativos, não importando idade, meio social, grau de escolaridade, posição política, econômica ou qualquer outra diferença. O conhecimento consiste no conjunto de saberes que formam a visão de mundo de cada sujeito cognoscente. O aluno traz sempre uma bagagem de vida que precisa ser valorizada pelo professor. A escuta é fundamental nesse processo. O professor precisa ouvir o que o aluno tem para expressar. Antes de ler e escrever esse aluno diz: quem é, de onde veio, como chegou, o que veio buscar, o que precisa, o que sonha. Aprender a ler e escrever é objetivo que alicerça projetos e transformação de vida.   
Enquanto na concepção bancária (...) o educador vai enchendo os educandos de falso saber, que são os conteúdos impostos; Na prática problematizadora, vão os educandos desenvolvendo o seu poder de captação e de compreensão do mundo que lhes aparece, em suas relações com eles não mais como uma realidade estática, mas como uma realidade em transformação, em processo (FREIRE, 1993, p. 71)
Trabalhar com temas geradores é impregnar os sentidos do aluno e se deixar impregnar pelos próprios sentidos. O outro e o mundo se tornam reais. Experenciar é fundamental nessa prática e Freire nos emociona ao relatar como aprendeu a ler o mundo pelos sentidos e pela curiosidade das coisas do mundo. A curiosidade provoca a busca pela solução dos problemas, a realidade provoca o pensamento crítico e o debate, a pergunta provoca resposta. Essa resposta não divide saberes, nem os prioriza, mas os soma em construção. O professor não planta uma ideia, ele colhe. Antes de ensinar a ler, aprende ele mesmo, a ler seu aluno.
O que Paulo Freire faz de tão revolucionário é articular de forma coerente, a epistemologia construtivista com a realidade da vida e as possibilidades humanas de aprender e agir sobre o mundo. É gerar algo novo. É ser gerador:
Na proposta de Freire não há remendos, à semelhança de outras visões que concebem a interdisciplinariedade a partir da justaposição das disciplinas isoladas. Ao contrário, a metodologia dos Temas Geradores é ela mesma originariamente interdisciplinar, alimentada pela essencial dialogicidade que dialetiza a produção do conhecimento desde a suas raízes mais originárias.” (ANDREOLA, 1993)

REFERÊNCIAS:
ANDREOLA, Balduino A. O Processo do Conhecimento em Paulo Freire. Educação e Realidade, Vol.18, nº1, p. 32-45/1993.     
FREIRE, Paulo. Pedagogia do oprimido. São Paulo: Paz e terra, 1993.

domingo, 3 de junho de 2018

Brincadeira e Construtivismo

                                                                            

A proposta de exercício feita na interdisciplina de Linguagem e Educação para fazermos um esquema relacionando a brincadeira que assistimos em vídeo e recriamos em aula, com as ideias de Piaget sobre a Epistemologia Genética e os Estágios de Desenvolvimento, nos direcionou para um trabalho de pesquisa, observação e reflexão sobre aquilo que vemos e percebemos, não apenas sobre a forma de ver a construção de conhecimento elaborada por Piaget, mas sobretudo sobre a forma como relacionamos a construção do conhecimento de nossos alunos em suas brincadeiras e aprendizagens.

Piaget trata do desenvolvimento e da construção do conhecimento. Epistemologia significa filosofia da ciência e genética significa evolução para Piaget. A pergunta que permeia a pesquisa e a obra de Piaget é: Como os homens constroem conhecimento, ou seja, como os homens passam de um nível de conhecimento para outro? Em suas pesquisas com as crianças, ele concluiu que o desenvolvimento das capacidades e habilidades humanas não se dá tanto pelo acúmulo de informações, mas através da organização e da reorganização das informações e das aprendizagens desenvolvidas. Os estágios de desenvolvimento de Piaget representam uma lógica de desenvolvimento e capacidades: 

        Etapas do Desenvolvimento
             Características
             Sensório-Motora
              (De 0 a 2 anos)
Construção de esquemas de ação; Inteligência prática e sensorial.
      Pré-Operatória ou Simbólica
             (De 2 a 7 anos)
Construção de esquemas mentais, Inteligência simbólica e representativa; Desenvolvimento da fala; Pensamento egocêntrico.
      Operatória ou Conceitual
         Concreta (De 7 a 11 anos)
     Formal (De 11 anos em diante)
Concreta: Pensamento normativo (lógico), reversível e descentrado.
Formal: Inteligência lógico abstrata (não limitada a experiências concretas).

São etapas que se somam. Esses estágios nos aprisionam como organizadores e mediadores de propostas ou limitam a criança em suas potencialidades e capacidades?  Não, os estádios não precisam e não foram criados para classificar o aluno, a indicação de idade é apenas uma aproximação e as passagens de uma fase para outra dependem da qualidade das interações de cada um com o meio como podemos tão bem constatar na brincadeira “Vamos passear na floresta", onde crianças de diferentes estádios de desenvolvimento participam da mesma brincadeira, cada uma de acordo com suas capacidades e habilidades, mas ao interagir com o outro e com o meio avançam e reorganizam suas possibilidades e aprendizagens durante a brincadeira utilizando a imitação, o simbolismo, a narrativa, a repetição, o corpo, o movimento, o faz de conta. 

A brincadeira também é estímulo para a criatividade, a imaginação, a memória, a aprendizagem, a estrutura psíquica, a concentração, a iniciativa e a linguagem. O brincar traduz a linguagem através da expressão de conteúdos consistentes e inconsistentes para criança e pela expressão da apreensão da realidade. Portanto, brincar é linguagem e condição para que a linguagem se desenvolva. Além disso, a brincadeira promove a autonomia, a aprendizagem e o conhecimento que são eixos do construtivismo. Como professores também precisamos nos desacomodar, nos reorganizar e nos desafiar diante do novo para que também possamos nos acomodar, organizar e ampliar nossas possibilidades de fazer e aprender.