quinta-feira, 24 de novembro de 2016

Analisando Nosso Projeto

Não sou fã de questionários, mas achei muito interessante a atividade proposta na interdisciplina de Seminário Integrador IV para reavaliarmos nosso projeto e a coerência de nossas ideias dentro dele. Esse exercício nos faz refletir sobre a questão que originou nossa investigação, nossas dúvidas temporárias, nossas certezas provisórias, nosso plano de ação e a necessidade de mantermos nosso foco e objetivo, sem deixarmos de abrir possibilidades de pesquisa e encontrarmos novas respostas a partir da pergunta inicial.

Revendo dúvidas temporárias
1) Como começou a domesticação dos animais?
Essa pergunta originou o projeto. A partir dela foram surgindo todas as outras dúvidas e certezas. Não sabemos exatamente quando começou a domesticação dos animais, mas estamos revendo nossas fontes para buscar esta resposta. O mais importante é para nós é saber "como" começou  essa domesticação.

2) Qual o primeiro animal domesticado pelo homem?
Essa dúvida era uma certeza para todos no início do projeto.  Recentemente voltou a ser dúvida para um dos componentes do grupo. É importante que nossas pesquisas cheguem à um denominador comum porque essa relação inicial do homem com o animal é um fator determinante, não apenas para nosso projeto, mas para a história da humanidade.

3) O homem desenvolveu habilidades observando os  animais?
Essa questão foi levantada por mim no grupo. O que aprendemos observando os primeiros animais pode ter iniciado o processo da domesticação e estimulado nossas habilidades humanas em todos os sentidos.

4) A domesticação dos animais é utilitária ou afetiva?
Quando falamos em domesticação dos animais, há sempre essa relação de "proveito" por parte do homem mas a relação do homem e animal evoluiu. Essa costura do tempo e da transformação ou transmutação dessa relação é importante dentro do projeto. 

5) O homem domestica os animais ou os animais domesticam o homem?
Essa é uma pergunta que fiz ao grupo no sentido de provocar uma reflexão profunda sobre nosso projeto e sobre a relação homem e animal. Penso que esta pergunta pode nos levar a uma conclusão interessante sobre a pesquisa. Não vai contra a pergunta que originou o projeto, mas nos ajuda a respondê-la, trazendo para o projeto uma nova forma de ver a relação do homem com a domesticação dos animais, transformando o nosso olhar sobre essa relação.


Revendo Certezas Provisórias
1) A domesticação dos animais iniciou na pré-história. 
Pesquisas recentes apontam o início dessa relação entre homem e animal para o dobro do tempo pesquisado anteriormente (17 mil anos) para 33 mil anos. Penso que devemos fazer referência a essas pesquisas em nosso trabalho, mesmo aceitando o que já está comprovado. 

2) O cão foi o primeiro animal a ser domesticado.
Estamos discutindo isso no grupo (cão, cavalo, ovelha)... Minhas fontes pesquisadas apontam para o cão. 

3) O homem desenvolveu habilidades observando os animais.
Sim e não. Essa relação entre domesticação e interesse humano persiste, mas não se faz única. Ainda que tenhamos animais domésticos para obter companhia e carinho, onde existe afetividade existe troca.

4) O homem domestica os animais para suprir suas necessidades.
Caminhamos lentamente para o inverso. Cada vez mais o homem questiona a sua relação com os animais e a forma como se utiliza da domesticação dos animais.

5) Os animais também domesticam o homem.
Essa relação transformada nos leva à um novo ciclo dessa mesma relação. O animal passa a domesticar o homem no sentido de fazê-lo perceber que não é a "espécie soberana", mas uma entre as espécies que habitam o planeta terra.


Reavaliando nosso plano de ação
1) Rever e analisar nosso quadro de certezas e dúvidas, para evitar informações que se contradizem, equivocadas ou que pouco tenham a acrescentar nas ideias centrais pesquisadas.
É fundamental rever tudo que fizemos para concluir com nosso trabalho. Só assim evitaremos a repetição, o equívoco, a contradição.

2) Condensar dúvidas e certezas que possam ser reunidas em uma única informação.
Condensar nossas ideias não apenas resume a informação mas torna clara estas informações. É o que chamamos no jornalismo de enxugar o texto (torná-lo limpo). 

3) Rever nossas investigações passo à passo. Quem pesquisou o que, como, onde e, sobretudo, com que objetivo.
Rever nossas intenções é fundamental, porque nossas perguntas foram surgindo mas podemos ter nos distanciado da intenção do projeto ou não deixamos clara nossa intenção.

4) Reconhecer e modificar as fontes pesquisadas quando necessário.
Nossas fontes precisam ser confiáveis para que nosso projeto também seja. 

5) Entrevistar representante de uma ONG protetora de animais, um médico veterinário, um dono de Pet Shop, pessoas que possuem animais de estimação, pessoas que perderam seus animais de estimação.
Essa ação é importantíssima, embora inicialmente tenha sido pensada assim, de forma tão ampla (inviabilizada depois pelo grupo), porque o relato da experiência através da fala nos aproxima das ideias e torna transparente e real o que queremos mostrar. Podemos buscar essa fala de diversas formas, sem a necessidade de ser tão ampla ou a obrigação de sermos "repórteres".

6) Evidenciar a relação do grupo e os animais de estimação na vida pessoal e no trabalho. 
Essa foi uma sugestão minha aceita pelo grupo, porque cada uma de nós tem ou teve uma relação profunda com seu animal de estimação. Nossa fala é um depoimento sobre a questão da relação homem animal.

7) Reunir todas as informações.
Reunir todas as informações recolhidas para editar nosso material e tornar nossa pesquisa qualitativa e interessante para o grande grupo é o nosso maior desafio. Para isso, precisamos superar nossas diferenças de opiniões e vaidades.

"Vaidade das vaidades. Tudo é vaidade." (Eclesiastes, capítulo 1)

sexta-feira, 18 de novembro de 2016

Boliche até 10

Relatório de aplicação do campo aditivo: O boliche é um dos jogos preferidos das crianças, além de ser uma maneira lúdica e divertida de aprender matemática. Temos vários na escola, quase todos confeccionados pelas próprias crianças usando material reciclado: de lata, de caixas de leite, de garrafa pet, de rolinhos de papel higiênico... Gostei muito do jogo digital Faça 10 e logo pensei no boliche.

Material: Dez garrafas (sucata) de plástico de cinco litros (pinos); uma bola vermelha grande; fita adesiva; fichas com nome e foto das crianças; tampinhas.

Objetivo: Contar até 10 brincando de adição.

Relatório da atividade: Primeiro conversei com as crianças para decidir se o jogo seria individual ou em duplas. Neste caso, os cinco jogadores do jardim B (6 anos) decidiram jogar individualmente. Ficou decidido que quem fizesse dez pontos ganharia. Se houvesse empate, ganharia quem fizesse mais pontos no desempate. Fiz uma pista de boliche com a fita adesiva vermelha, para demarcar o espaço que seria percorrido pela bola até os pinos. O jogo de boliche escolhido e feito pelas crianças é uma atração à parte, os pinos têm diferentes materiais: água colorida, tampinhas, blocos de madeira e o preferido das crianças (a garrafa com a aranha).

                                
                                              
Organizei as dez garrafas em forma de triangulo na pista. Cada jogador pôde jogar apenas duas vezes para tentar derrubar o maior número de garrafas. Depois de fazer sua jogada, o jogador contava as garrafas derrubadas, ia até o cesto de tampinhas e pegava o número de tampinhas correspondente ao número de garrafas derrubadas.

                                           
               
Em seguida, cada jogador pegou sua ficha com foto e distribuiu o número de tampinhas correspondentes às duas jogadas (uma jogada de cada lado). As crianças também brincaram de subtração, tirando tampinhas de um dos lados das fichas. 
                            

                                                       


Por fim, apareceram alguns amigos do Jardim A (5 anos), que também quiseram jogar boliche.




Aprendizagens: É sempre interessante perceber como as crianças aprendem pelo concreto e com o outro:
“Não pode ser eu derrubei cinco. Pera aí: 3+3 é 5. Ai não!!! 3+2 é 5. Eu derrubei 5.” (Tayne)
“Nathan tu derrubou só oito. Pode contar aí. Primeiro tu derrubou só 4 e depois mais 4.” (Clarinha)
“Eu acho que derrubei seis. Porque olha as tampinhas. Eu vou contar 3+3 dá seis.” (Clara)
“Só oito não né? Oito é um montão.” (Nathan)
“Eu vou ganhar porque eu fiz nove. O nove é maior que oito.” (Lorenzo)
“Eu derrubei todos. Fiz dez pontos. Sou a campeã. Vou conferir 5+5 é igual 10. Eu ganhei!!! Que legal!!!!” (Giovanna)


                        
                                                                    
                                 

                                                                                                          
                                     
                                                                                   
                                                                                                                                      

segunda-feira, 14 de novembro de 2016

A Didática no Ensino da Matemática

                           

           O texto “Técnicas e Tecnologias no Trabalho com as Operações Aritméticas nos Anos Iniciais Ensino Fundamental”, de Bittar, Freitas e Pais, nos traz reflexões importantes sobre a matemática em nossas escolas. Concordo plenamente com os autores: a questão do ensino da matemática está ligada à questão da transposição didática. Como transformar e transferir o saber acadêmico para o aluno. Sabemos que uma coisa é saber e outra é ensinar. Saber muito sobre matemática não significa saber ensinar matemática. Mas qual a melhor maneira de ensinar matemática. Será que ela existe? O professor deve valorizar mais os aspectos práticos e técnicos, valorizar mais os aspectos tecnológicos e teóricos ou investir mais na exploração e no construtivismo? Precisamos ser tão radicais em nossa escolha? Porque muitos professores se acomodam em um modelo de ensino da matemática não traz bons resultados?

            Trabalho com crianças de 0 a 6 anos de idade. Ninguém começa a se interessar por números aos seis anos de idade, mas uma criança nessa idade já pode perder o interesse em saber e descobrir sobre números.  O texto nos mostra claramente o excesso de valorização do certo ou errado. O que é errado para nós é a lógica da criança. As crianças não aprendem matemática memorizando, repetindo e exercitando exaustivamente números e operações, mas resolvendo situações problema, enfrentando obstáculos cognitivos e utilizando seus conhecimentos. A criança já chega na escola trazendo sua bagagem de matemática, ela já vivencia  matemática, antes mesmo, de saber definir conceitos matemáticos. Então é importante que não ignoremos este saber trazido pela criança. A percepção do aluno é indispensável para o sucesso da matemática em sala de aula. É sobre isso que nos fala Constance Kamii em seu livro, A Criança e o Número: “Quando ensinamos número e aritmética como se nós adultos fôssemos a única fonte válida de retroalimentação, sem querer ensinamos também que a verdade só pode sair de nós. Então a criança aprende a ler no rosto do professor sinais de aprovação e reprovação.”

             A didática da matemática nos mostra que não é apenas com o número, mas com a análise e a reflexão sobre o sistema de numeração que os pequenos constroem seu conhecimento matemático. Quando falamos em matemática para as crianças de 0 a 6 anos é preciso sempre lembrar que o lúdico é um fator indispensável neste processo. Eu utilizo histórias, personagens, materiais concretos, jogos e brincadeiras como (boliche, o dominó, bolas de gude, bingo, basquete, memória, sucatas, tampinhas...) para envolver as crianças na minha prática e despertar sua curiosidade e interesse pela matemática. Trabalho com o concreto encorajado as crianças a relacionar os números com os objetos, pensar sobre os números e interagir com os colegas. É extremamente interessante perceber o quanto os alunos aprendem uns com os outros nas atividades propostas. Os desacordos e acordos entre elas estimulam a releitura do pensamento. Vejo em minha prática diária que as crianças têm muitas maneiras de chegar a uma resposta.

            Gérard Vergnaud nos diz que é importante pensar a adição e a subtração sob o enfoque do campo aditivo porque não se pode entender o aprendizado de um conceito e o desenvolvimento cognitivo separadamente. Por isso, é preciso considerar a variedade de situações envolvidas na formação de um conceito e a variedade de situações envolvidas no entendimento de uma situação. O texto esclarece porque somar e subtrair são complementares para as crianças e nos acorda para a necessidade de aprender como as crianças pensam para ensiná-las, porque se conseguirmos perceber como as crianças constroem seus conhecimentos matemáticos, poderemos planejar uma didática muito mais eficaz e prazerosa para o ensino da matemática:


domingo, 6 de novembro de 2016

O Mundo é Grande

"O mundo é grande e a gente tá no mundo também."(Bia)

           Estamos explorando com o Maternal 1, um projeto sobre os meios de transporte: carro, ônibus, bicicleta, cavalo, avião,barco,trem,balão,foguete... Quando escolhemos o livro “Saco de Brinquedos”, com a poesia deliciosa de Carlos Urbim, ilustrado pela Laura Castilhos , descobrimos nele, diferentes possibilidades para explorar noções de cartografia com nossos pequenos usando as poesias e as ilustrações.
       Fizemos vários brinquedos individuais e coletivos com as crianças utilizando sucatas. Um deles foi o trenzinho de lata. Depois de ler o texto sobre o ensino da Geografia no espaço escolar, de Castriogiovanni Costella, refletindo sobre as dificuldades que as crianças enfrentam mais adiante, no ensino fundamental, para trabalhar com mapas, decidimos fazer um trem com nossos pequenos, para conhecer um pouco o entorno da escola e, de quebra, aprender também sobre sinalização do trânsito (assunto trabalhado até então, teoricamente com as crianças). Utilizando caixas de papelão cada criança pintou e personalizou o seu vagão. Com nosso trem pronto, só nos faltava atravessar os muros da escola. Não tem como descrever a alegria dos pequenos nessa descoberta.


“A casa do Rafa é ali do lado. Olha prof. é colada na escola.”(Bia)
“Eu já tinha vito essa alvole.”(Anelise)
“Na faixa a gente tem passar só quando o motorista parar.”(CaioB.)
“O Gaby tá levando o trem pro outro lado prof.”(Melissa)
“A minha pima etuda nesse coiégio aí gandão.”(Dudu)
“É longe prof. porque eu já to ficando muuito cansado.”(Caio K.)
“A gente tá indo a pé é porque é perto né Caio?” (Caio B.)
“Se fosse longe a gente ía de carro. (Melissa)
“Vocês sabiam que o prefeito trabalha aqui,  neste prédio grande? (Kátia)
“O que é aquilo ali de vidro prof?” (Melissa)
“É o elevador que o prefeito pega todo dia para ir trabalhar.” (Kátia)
“Que legal. Até parece um foguete.” (Caio B)
“Eu posso atravessar agora?” (Kátia)
“Olha o sinal Kátia. Nãoooooooooooooo. Tá vermelho.” (CaioB.)
“Kátia nãooooo. Amarelo espera. Tu esqueceu?”(Bia)
“Ai Kátia, cuidado hein pla atrevessal aí. É peligoso ataveissá a lua.” (Melinda)
“Agola Kátia vem. Tá vede. Vem.” (Melinda)
“Eu gostei muito Kátia poque a gente viu coisa que é legal: a casa do Rafa, a casa do pefeito , álvoles. Álvoles são muito importantes Kátia.”(Caio K.)          “O mundo é muito grande né Kátia?” (Beatriz)

                                                

        Nosso passeio trouxe novas curiosidades e objetivos para trabalhar com as crianças, conversamos sobre o que elas já conheciam no caminho, sobre o que costumam ver antes de chegar e ao sair da escola, sobre como elas chegam à escola: de carro, a pé, de ônibus, de transporte escolar, de carinho de bebê. Fizemos então um cartaz para que cada uma colasse sua foto (explorando também classificação, seriação, quantidade).


            O texto de Piaget, Jean Piaget E A Construção de Maquetes, Um Olhar Para A Educação Geográfica trouxe para minha prática, abordagens importantes sobre o uso de maquetes no ensino e aprendizagem da Geografia. Especialmente sobre o uso de maquetes como ponto de partida para a Geografia e não como resultado final da exploração  geográfica . O texto nos fala que a maquete é um recurso didático que leva a compreensão de saberes  geográficos e leva para o espaço projetado tridimensionalmente  as diferentes relações sociais que vivemos no espaço coletivo.
         Mas para fazer uma maquete que seja relevante na aprendizagem, precisamos respeitar  o conhecimento trazido pelo aluno e sua cultura ,a troca de vivências , ideias e pensamentos e suas próprias curiosidades, conflitos e intenções durante todas as etapas de construção da maquete, que é ou deve ser uma construção coletiva, como revela Piaget:

“O conhecimento humano é essencialmente coletivo e a vida social constitui um dos fatores essenciais da formação e do crescimento dos conhecimentos  pré-científicos e científicos.”(PIAGET,1993, p.17).

          A fala da aluna Beatriz sobre o passeio nos fala do tamanho do mundo: “O mundo é grande.” Ao perceber o tamanho do mundo é importante que a criança vá construindo a ideia de que seu próprio mundo e saberes fazem parte desse mundo maior, de tudo que a cerca individualmente e coletivamente. Ao perceber o espaço do mundo que a cerca, Beatriz percebe a si mesma e sua relação com esses espaços e suas relações com todos os que convivem com ela nesse mundo tão grande.
      “Prof.  Kátia, a gente tem que botar a casa do Rafa.”( Bia) “O levador do pefeito né”( Ane) “Alvoles é o que mais tem.(Caio K) “Carros relâmpagos.”(Rafael) “Tem o sinal.”( Melinda) “Cachorro” (Alice) “Tem a gente. A gente também é importante. Porque a gente tá no mundo também.” (Caio B.) "O mundo é grande e a gente tá no mundo também." (Bia)

Referências:

CASTROGIOVANNI e COSTELLA. Geografia e Cartografia Escolar no Ensino Básico: Uma Relação Complexa- Percursos e Possibilidades.

PIAGET, Jean. Jean Piaget e a Construção De Maquetes: Um Olhar Para A Educação Geográfica.