domingo, 6 de novembro de 2016

O Mundo é Grande

"O mundo é grande e a gente tá no mundo também."(Bia)

           Estamos explorando com o Maternal 1, um projeto sobre os meios de transporte: carro, ônibus, bicicleta, cavalo, avião,barco,trem,balão,foguete... Quando escolhemos o livro “Saco de Brinquedos”, com a poesia deliciosa de Carlos Urbim, ilustrado pela Laura Castilhos , descobrimos nele, diferentes possibilidades para explorar noções de cartografia com nossos pequenos usando as poesias e as ilustrações.
       Fizemos vários brinquedos individuais e coletivos com as crianças utilizando sucatas. Um deles foi o trenzinho de lata. Depois de ler o texto sobre o ensino da Geografia no espaço escolar, de Castriogiovanni Costella, refletindo sobre as dificuldades que as crianças enfrentam mais adiante, no ensino fundamental, para trabalhar com mapas, decidimos fazer um trem com nossos pequenos, para conhecer um pouco o entorno da escola e, de quebra, aprender também sobre sinalização do trânsito (assunto trabalhado até então, teoricamente com as crianças). Utilizando caixas de papelão cada criança pintou e personalizou o seu vagão. Com nosso trem pronto, só nos faltava atravessar os muros da escola. Não tem como descrever a alegria dos pequenos nessa descoberta.


“A casa do Rafa é ali do lado. Olha prof. é colada na escola.”(Bia)
“Eu já tinha vito essa alvole.”(Anelise)
“Na faixa a gente tem passar só quando o motorista parar.”(CaioB.)
“O Gaby tá levando o trem pro outro lado prof.”(Melissa)
“A minha pima etuda nesse coiégio aí gandão.”(Dudu)
“É longe prof. porque eu já to ficando muuito cansado.”(Caio K.)
“A gente tá indo a pé é porque é perto né Caio?” (Caio B.)
“Se fosse longe a gente ía de carro. (Melissa)
“Vocês sabiam que o prefeito trabalha aqui,  neste prédio grande? (Kátia)
“O que é aquilo ali de vidro prof?” (Melissa)
“É o elevador que o prefeito pega todo dia para ir trabalhar.” (Kátia)
“Que legal. Até parece um foguete.” (Caio B)
“Eu posso atravessar agora?” (Kátia)
“Olha o sinal Kátia. Nãoooooooooooooo. Tá vermelho.” (CaioB.)
“Kátia nãooooo. Amarelo espera. Tu esqueceu?”(Bia)
“Ai Kátia, cuidado hein pla atrevessal aí. É peligoso ataveissá a lua.” (Melinda)
“Agola Kátia vem. Tá vede. Vem.” (Melinda)
“Eu gostei muito Kátia poque a gente viu coisa que é legal: a casa do Rafa, a casa do pefeito , álvoles. Álvoles são muito importantes Kátia.”(Caio K.)          “O mundo é muito grande né Kátia?” (Beatriz)

                                                

        Nosso passeio trouxe novas curiosidades e objetivos para trabalhar com as crianças, conversamos sobre o que elas já conheciam no caminho, sobre o que costumam ver antes de chegar e ao sair da escola, sobre como elas chegam à escola: de carro, a pé, de ônibus, de transporte escolar, de carinho de bebê. Fizemos então um cartaz para que cada uma colasse sua foto (explorando também classificação, seriação, quantidade).


            O texto de Piaget, Jean Piaget E A Construção de Maquetes, Um Olhar Para A Educação Geográfica trouxe para minha prática, abordagens importantes sobre o uso de maquetes no ensino e aprendizagem da Geografia. Especialmente sobre o uso de maquetes como ponto de partida para a Geografia e não como resultado final da exploração  geográfica . O texto nos fala que a maquete é um recurso didático que leva a compreensão de saberes  geográficos e leva para o espaço projetado tridimensionalmente  as diferentes relações sociais que vivemos no espaço coletivo.
         Mas para fazer uma maquete que seja relevante na aprendizagem, precisamos respeitar  o conhecimento trazido pelo aluno e sua cultura ,a troca de vivências , ideias e pensamentos e suas próprias curiosidades, conflitos e intenções durante todas as etapas de construção da maquete, que é ou deve ser uma construção coletiva, como revela Piaget:

“O conhecimento humano é essencialmente coletivo e a vida social constitui um dos fatores essenciais da formação e do crescimento dos conhecimentos  pré-científicos e científicos.”(PIAGET,1993, p.17).

          A fala da aluna Beatriz sobre o passeio nos fala do tamanho do mundo: “O mundo é grande.” Ao perceber o tamanho do mundo é importante que a criança vá construindo a ideia de que seu próprio mundo e saberes fazem parte desse mundo maior, de tudo que a cerca individualmente e coletivamente. Ao perceber o espaço do mundo que a cerca, Beatriz percebe a si mesma e sua relação com esses espaços e suas relações com todos os que convivem com ela nesse mundo tão grande.
      “Prof.  Kátia, a gente tem que botar a casa do Rafa.”( Bia) “O levador do pefeito né”( Ane) “Alvoles é o que mais tem.(Caio K) “Carros relâmpagos.”(Rafael) “Tem o sinal.”( Melinda) “Cachorro” (Alice) “Tem a gente. A gente também é importante. Porque a gente tá no mundo também.” (Caio B.) "O mundo é grande e a gente tá no mundo também." (Bia)

Referências:

CASTROGIOVANNI e COSTELLA. Geografia e Cartografia Escolar no Ensino Básico: Uma Relação Complexa- Percursos e Possibilidades.

PIAGET, Jean. Jean Piaget e a Construção De Maquetes: Um Olhar Para A Educação Geográfica.


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