domingo, 10 de dezembro de 2017

Aprendendo com os erros



A interdisciplina de Seminário Integrador sempre nos desafia com propostas que nos desacomodam e nos tiram da zona de conforto como estudantes e educadores, nos fazendo perceber que não dominamos conteúdos e ações, mas que estamos sempre a aprender coisas novas e a desconstruir aprendizagens e metodologias de estudo e prática. É como se fosse um eterno quadro de certezas e dúvidas aonde nada é definitivo.  Penso que partir da experiência pessoal e do que fazemos e vivenciamos como professores, para só depois buscar conteúdos de pesquisa e autores que nos tragam sustentação para nossas ideias e textos foi fundamental. Partir daquilo que sabemos para ir além é como seguir do rio para o mar e não o contrário. Essa articulação entre nosso referencial de vida e o referencial teórico alicerçou todas as atividades propostas aqui e foi a base para a qualidade dos textos que todas nós escrevemos.

Preciso admitir que me atrapalhei com a ferramenta de pesquisa e isso fez com que algumas perguntas (na minha opinião), tivessem um sentido duplo ou confuso. Também poderia ter elaborado melhor as opções de respostas e se pudesse refazer esta atividade em especial, teria inserido uma pergunta subjetiva. Por outro lado, tive muita sorte na minha busca por textos e citações de autores que fizeram toda a diferença na hora de argumentar e evidenciar minhas ideias e o objetivo do meu texto. Destaco aqui o privilégio de poder visitar as páginas das colegas Mara e Luciana, dois textos que já admiro desde o início do PEAD e que acompanho no blog com frequência para tentar aprender e mesmo por puro deleite de ler a escrita de ambas. E o que dizer dos comentários sobre meu trabalho, feitos pelas colegas Josiane e Janaína que foram extremamente gentis em suas observações e críticas construtivas com as quais concordo plenamente. A palavra é uma só: Gratidão.

Por fim, como já disse tantas vezes e repito aqui, penso que esta interdisciplina é sempre uma costura de todas as outras, tecendo assim uma colcha de retalhos em e entre tudo o que aprendemos neste semestre sobre diversidade, diferenças, identidade, respeito, tolerância religiosa, pluralidade, singularidade e cultura como modo de ser e ver o mundo. Se todos nós somos desafiados a trabalhar a questão dos preconceitos na escola, esse exercício de busca e de troca nos qualificou não apenas para entender a origem de alguns preconceitos, mas sobretudo para descobrir possibilidades de intervenção diante das ideias pré-estabelecidas que tanto afligem nosso cotiano social e escolar. Compartilhar conhecimento e aprender com as diferenças, eis o que resume o vivenciado neste VI Eixo de Seminário Integrador. 

Que a gente possa lutar contra a intolerância do preconceito em todas as suas formas: Na escola e na vida.

REFERÊNCIAS: Clipe do Hino aos Orixás com a pureza das crianças, contra a intolerância e pela liberdade religiosa. Com a Banda de Ptah e as Crianças do Templo do Vale do Sol e da Lua. TV Espiritualidade. Publicado em 12 de outubro de 2012 no You Tube.

quarta-feira, 29 de novembro de 2017

QUAL A COR DA TUA COR


         

 Coleta de dados e reflexões sobre as relações étnico raciais na escola

A palavra preconceito está definida no dicionário como “qualquer opinião ou sentimento concebido sem exame crítico”. Todos nós, de uma maneira ou outra, somos desafiados a trabalhar a questão do preconceito em nossas escolas. Na EMEI Tio Barnabé, não é diferente. Constantemente surgem ações, questionamentos, situações, revelações e constatações de que as crianças não são e não estão imunes aos preconceitos.
Na turma de M2, onde trabalho atualmente, ao percebermos a intricada relação de baixa autoestima, de falta de identidade e de conflitos nas relações étnico raciais, optamos por trabalhar com as crianças no sentido de valorizar a diversidade. Por isso, não esperava que o censo escolar sobre o dado cor/raça, mostrasse completamente a real identidade racial das crianças, mas o resultado encontrado pelo levantamento feito junto às famílias trouxe uma discrepância muito grande, ainda maior do que eu esperava.
Não são apenas as crianças têm baixa autoestima em relação a sua cor, mas suas famílias também. O quadro abaixo revela a imensidão do problema: Dos 125 alunos matriculados na escola, apenas 8 são declarados como sendo da cor negra. As famílias declaram 104 crianças como brancas, 10 como pardas, nenhuma como indígena, nenhuma como amarela, uma família optou por não declarar a raça/cor da criança e há ainda uma, que identifica a criança como qualificação não declarada.

                       QUAL A COR DA TUA COR         

O censo revela: 83% das famílias declaram suas crianças como brancas e apenas 6% declaram seus filhos como negros. A diferença entre aquilo que é declarado e a realidade é enorme. Vejamos os dados da turma do M2 declarados pelos familiares das crianças no quadro acima. Das 21 crianças matriculadas, 20 foram declaradas como brancas e uma não teve a cor declarada pela família. O preconceito não está apenas na família, nem é apenas repetido na escola ou na sociedade, o preconceito está internalizado na criança como pudemos mais uma vez constatar durante nossas rodas de conversa sobre o assunto. O diálogo constante sobre a cultura e origem familiar contribuiu para a elaboração de um novo quadro, desta vez, estruturado pela visão das crianças, das famílias e da professora. 

Etnia
Dados da Ficha Autodeclarados
 Visão do Aluno/ Atividade em aula
Perspectiva da Professora
Branco
20
18 
13
Negro
0
2
  5
Pardo
0
0
  2
Indígena
0
1
  1
Não declarado
1
0
  0


Os dados obtidos impressionaram não apenas à equipe de trabalho da turma do M2, mas a todos os educadores da escola. São números que nos empurram para discussão e reflexão sobre a realidade atual e sobre nossos futuros projetos em relação a esta questão. Há muito para ser feito sobre as relações étnico raciais na escola e o primeiro passo nesse sentido, está em ter clareza e conhecimento da realidade dos números, que não podem e não devem ser ignorados.

A autoestima que a criança vai desenvolvendo é, em parte, interiorização da estima que se tem por ela e da confiança da qual é alvo. O que fazemos em sala de aula, o que dissemos, o que propomos e o que ignoramos, silenciamos ou negligenciamos em torno dessa questão pode perpetuar preconceitos ou despertar a valorização das diferenças e da autoestima. A construção da identidade é um processo constante que envolve sentimentos sobre como o outro nos faz perceber:

(...)os outros fazem-nos sentir, pelas palavras, pelos olhares, que somos pobres ou aleijados, demasiado baixos ou demasiados altos, escuros ou demasiados louros, circundados, não circundados ou órfãos- estas inumeráveis diferenças, mínimas ou significativas, que traçam os contornos da cada personalidade, forjam comportamentos, as opiniões, os receios, as ambições, que se revelam muitas vezes eminentemente formativas, mas que frequentemente nos ferem para sempre. (MALOUF, 2002, p.35)

REFERÊNCIAS:

SECAD- Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade. Orientações e Ações para a Educação das Relações Étnico- Raciais. Brasília, 2016.

domingo, 26 de novembro de 2017

Entre os muros da escola

                       

O cinema está cheio de filmes onde o professor super herói salva os alunos e a escola. Isso não acontece no filme francês “Entre les murs”, de Laurent Cantet.Entre os Muros da Escola” rejeita a versão de final feliz dos filmes hollywoodianos: O professor não é o salvador da pátria escola. Ele não derruba os muros e planta flores entre eles. Porque ele não o faz? Porque ele também é prisioneiro desses muros visíveis e invisíveis que habitam a escola. A inércia na e da escola não é resolvida só com o sujeito docente. Há um mundo inteiro dentro dos muros da escola, uma estrutura complexa e cheia de contradições que envolve sujeitos diferentes: professores, pais, alunos, funcionários, direção e gestão. Contradição talvez seja a melhor palavra para descrever e definir o filme.

Tudo é contradição em entre os Muros da Escola: Transformação X Estagnação; Professores X Alunos; Professores X Professores; Pais X Alunos; Professores e Gestão; Gestão X Todos; Alunos X Alunos; Diversidade X Xenofobia; Cultura X Aculturação; Pensamento X Aprisionamento; Adaptados X Excluídos; Liberdade X Autoritarismo; Questionamento X Desrespeito; Gestão Democrática X Gestão Ditadora; Sujeito X Sujeito. Isso mesmo: Sujeitos contra sujeitos. Os sujeitos esbarram nesses muros levantados, esbarram entre si e em si mesmos, esbarram em seus espaços e nessas contradições criadas pelo sistema e mantidas por toda a comunidade escolar. É um círculo vicioso onde todos já sabem o final.

A escola é mostrada como uma repetidora da desigualdade e dos preconceitos em todos os níveis, onde a educação é o que menos importa, onde aprender e ensinar não vale a pena; onde ninguém parece acreditar em nada ou querer lutar por um ensino de qualidade, onde os pares discentes não se entendem, onde se divide ao invés de somar, onde os diferentes convivem mas não são reconhecidos, onde a educação ganha escala industrial e não há lugar para os excluídos dos moldes, onde obedecer é vital para permanecer, mas questionar é totalmente dispensável e pensar criticamente só atrapalha a engrenagem. 

É chocante ver a escola matando a mudança, a esperança, a aprendizagem, a transformação e a possibilidade do sujeito. O filme nos coloca diante do espelho e do abismo que existe entre a realidade e o que deveria ser. Nos sacode da mesmice que habita entre os muros da nossa própria escola e nos faz refletir sobre nosso papel como educadores, porque a imagem refletida no espelho do filme volta. Não está lá, mas aqui. Entre os muros da escola é um convite para pensar na escola que somos e na escola que podemos ser. Refletir, como o silêncio que antecipa as revoluções, pode ser o início da derrubada dos muros.

REFERÊNCIAS:

Entre les murs, de Laurent Cantet. Disponível no You Tube: https://www.youtube.com/watch?v=rBXlPg7nj-Y&feature=youtu.be

quarta-feira, 15 de novembro de 2017

À Sombra Desta Mangueira

                                            
À Sombra Desta Mangueira: Uma Reflexão Sobre Dialogicidade

"...Os educadores verdadeiramente democráticos não estão - são dialógicos."
                                                                                               (Paulo Freire)

                                                                


O trecho do livro “A Sombra Da Mangueira”, de Paulo Freire, proposto pela interdisciplina de Filosofia na Educação, nos fala o conceito de Dialogicidade de forma mais intensa e significante: Na relação dialógica como prática da vida humana e democracia e também do diálogo como uma exigência epistemológica, o que nos leva a refletir sobre a distância entre as práticas educativas e o exercício da curiosidade epistemológica.
E porque o mestre Paulo Freire evidencia esse conceito prático de existência humana e educação? Porque educação é busca, inquietação e curiosidade. Ser curioso faz com que aprender seja buscar respostas e é nessa busca que os conhecimentos podem ser adquiridos. Sem curiosidade não há busca e sem busca pelas respostas às suas dúvidas, o aprendizado do aluno não é efetivo, não acontece de fato, não se concretiza como algo realmente adquirido.
É através do diálogo que o professor consegue despertar o sentido do interesse pelas coisas do mundo. Esta dialogicidade independe da política, pois dialogar é antes de tudo humano e opção democrática de quem educa. Como se dá então, essa relação dialógica entre professor e aluno? A raiz da dialogicidade se encontra e se alicerça no diálogo, em seu sentido mais amplo: Na relação do eu com o outro e na relação que estabeleço comigo mesmo. Pensar assim é afastar-se da educação autoritária.
Se o professor opta pelo autoritarismo e pela educação tecnicista o que importa não é a busca, mas os resultados obtidos através de velhas formas de ensinar, de avaliar e dos conteúdos decorados. Este professor mata o desejo de saber e aprender impedindo a aprendizagem em sua plenitude. Nessa educação pronta, plastificada, sem possibilidade de pergunta, de criatividade, de senso crítico e de possibilidades não cabe a democracia.
Dialogar é abrir uma porta de comunicação e manter a porta aberta durante o processo educativo porque aprender é troca de saberes. Na educação dialógica, o conhecimento é construído por alunos e educadores. Essa relação de aprendizagem construída de forma coletiva soma os saberes do aprendiz e do mestre. Essa compreensão do mundo pelo outro e com o outro, expressa uma forma de ver e compreender o mundo de forma mais plena, dinâmica real e sensível, tornando possível a construção de um mundo onde a educação, a esperança e a liberdade caminhem juntas como professor e aluno.

REFERÊNCIAS:

FREIRE, Paulo. À Sombra Desta Mangueira. Editora Olho d’ Água. São Paulo, Fevereiro, 2000.

domingo, 12 de novembro de 2017

Uma porta de comunicação

            Imagem relacionada       

Nossa última aula do curso "A constituição do Sujeito: Psicanalise e Educação", foi ministrada no escuro pela professora Simone Bicca, mas a falta de energia não impediu a aprendizagem e o diálogo. Começamos discutindo sobre Édipo, neuroses, psicoses e paranóias e terminamos conversando bastante sobre o autismo e sobre nossas relações com as diferentes situações que vivemos e enfrentamos em nossas escolas. Não há explicação para o autismo e não há solução mágica para o autismo. No entanto, por tudo que conversamos e vivenciamos, por nossas experiências compartilhadas, fica claro que pode haver um caminho, uma ponte de comunicação, que pode ser estabelecida por infinitas maneiras e formas. Também me chama a atenção o fato de que a criança pode estabelecer vínculo e comunicação com quem e da forma que menos se espera (objeto, animal, pessoa), o que me faz lembrar da afirmação da professora Simone sobre o fato de que somos mais escolhidos do que escolhemos. Fiquei emocionada com o depoimento da colega que falou sobre o aluno da chave e de como a professora usa esse recurso para comunicação e entendimento e com o caso do aluno que pensa ser Barth Simpson e acredita estar estudando em Springfield, em que a professora não rompe esta ponte, mas entra nela. Existem diferentes casos e situações e o que vale para um, não serve para outro, mesmo porque os sujeitos são únicos, como aprendemos constantemente neste curso e as relações nas escolas e com nossos pares também...  Assisti há muitos anos um filme sobre um garoto que estebelece uma ponte de comunicação com um cachorro.Está disponível no you tube.

Um Amigo Inesperado

Também pesquisando sobre filmes e autismo encontrei este documentário incrível LIFE ANIMATED, que conta a história de Owen Suskind, um jovem autista, que tem problemas de fala e utilizou filmes infantis da Disney para conseguir se comunicar de um jeito que encanta. Olha aí o desenho animado usado como ponte.

Life Animated


Interessante também é perceber como tudo o que estamos aprendendo neste semestre se relaciona nessa aprendizagem infinita sobre a diversidade humana. A reflexão e a sugestão de filmes se encaixam em tudo que estamos aprendendo em Educação de Pessoas com Necessidades Educacionais Especiais, interdisciplina que nos leva a refletir sobre nosso papel como professores atuantes de inclusão que não deve e não pode ser o da passividade, mas o da possibilidade, assim como a porta de comunicação com o autista. O discurso de Owen no final do documentário "Vida Animada", mostra que não é verdade que os autistas não gostam de contato com outras pessoas, como muita gente pensa, eles só não sabem como se relacionar. Fica aqui a sugestão do filme e a proposta para reflexão de nossas práticas com a inclusão.

domingo, 5 de novembro de 2017

Perguntar não é responder


A interdisciplina de Desenvolvimento e Aprendizagem Sob o Enfoque de Psicologia II nos tira da nossa zona de conforto como alunas espectadoras e ouvintes para o desafio da prática do que se aprende nos bancos do PEAD. A proposta é a aplicação do Método PIAGETIANO. Estamos todas envolvidas nessa tarefa que vai nos exigir estudo e conhecimento das regras de aplicação tão conhecidas e descritas, mas nunca dominadas por completo por ninguém, nem mesmo por Piaget, posto que a criança é vida e nos surpreende a todo o instante. Não é um método para obter resultados exatos, mas para obter resultados únicos, como único é o sujeito.
Piaget (1926) nos diz que para que o método dê resultado, é preciso regulá-lo por meio de controle e por regras, que atuem na forma de fazer e interpretar a pergunta. Devemos evitar a sugestão da palavra e a regra. É necessário ao pesquisador “[...] conhecer a linguagem infantil e formular as perguntas nessa mesma linguagem [...]” (Piaget, 1945, p.15)
A forma de o pesquisador perguntar é essencial, provocando na criança a necessidade de explicar a sua resposta. Isso evita uma série mecânica de perguntas parecidas;  É importante um clima agradável, livre de interferências externas; A aplicação piloto do método para verificar a coerência do método com o objetivo; A  relação de tranquilidade estabelecida para a criança com linguagem adequada do aplicador; A quantidade de perguntas também adequadas à idade da criança; A qualidade das perguntas feitas; A precisão do problema a ser investigado pode ter variáveis que podem ajudar ou atrapalhar a pesquisa; A prática do método e a reflexão da aplicação após a apreciação de uma entrevista filmada e transcrita são fundamentais; O educador deve valorizar as respostas do sujeito e sua forma de pensar acima dos resultados.
A interferência do professor, deve ser mais estimuladora e provocadora do que direcionada a obter determinada resposta ou resultado. Mais do que perguntar neste caso, é fundamental saber “como perguntar”.  Eis aí nosso maior desafio, aprender a perguntar, pois que a pergunta não deve ser a resposta, deve ser simplesmente o que é: a pergunta. 

Referências: 
MARQUES, Tânia B. I. Método Clínico Piagetiano. Exemplo de Transcrição
MARQUES, Tânia B. I. Sobre a aplicação das  provas operatórias.

sábado, 28 de outubro de 2017

A pluralidade do brincar



[...] Constatada em determinado momento e sociedade, qualquer diferença é, ao mesmo tempo, um resultado e uma condição transitória. Resultado, se consideramos o passado e privilegiamos o processo que resultou em diferença. Mas ela é igualmente um estado transitório, se privilegiamos a continuidade da dinâmica, que vai necessariamente alterar este estado no sentido de uma configuração posterior (Semprini, 1999, p. 11)
O brincar é um processo histórico e cultural e foi através deste processo que meninos e meninas tiveram brincadeiras destinadas a eles. Brincando a criança experimenta situações e emoções, se estrutura, reconhece o outro e se reconhece, começa a se colocar no mundo e a se relacionar com este mundo. A história das brincadeiras das crianças foi sendo construída de acordo com a história e a cultura social. Não existe um brincar certo ou errado para meninos e meninas, mas existem convenções sociais do brincar, assim, brincar de boneca é considerado coisa de menina e brincar de carrinho é considerado coisa de menino, como se o brincar pudesse ser separado por gênero.
A cultura, a tradição e a sociedade reforçam e valorizam esta separação, rejeitando modos diferentes de ser, de agir e de pensar, mas quando falamos de crianças falamos de possibilidades, de mudanças, de novas formas de pensar e de agir. Por isso, mesmo conhecendo conceitos pré-estabelecidos, as crianças encontram um jeito de refazer, de fazer o não permitido e de viver o inusitado.
A cultura influencia o brincar e as decisões do brincar, mas não impede, não limita e nem proíbe novas formas de brincar. Desse modo, precisamos pensar sobre a utilização dos brinquedos pelas crianças, sobre nossas práticas educativas, os processos e as condições que estabelecem as possibilidades do brincar dentro da escola.
O texto “Educação na e para a diversidade,” nos diz que a escola tem o compromisso ético de colocar em debate as diferenças, tendo em vista a formação do sujeito para o convívio social nas e para as diferenças. O papel da escola é desenvolver nos sujeitos as noções de reciprocidade, pluralidade, experimentação e criticidade na perspectiva do bem viver potencializando os direitos humanos.
Nossa proposta de atividade foi criar um ambiente desafiador para provocar o diálogo, a crítica, a reflexão e o respeito pela diversidade no brincar. Para isso, montamos um ambiente diferente. As crianças foram convidadas a entrar embaixo de uma cabaninha de plástico transparente onde havia carrinhos e bonecas para escolha individual. A medida que iam entrando na cabana, cada uma escolhia um brinquedo. Quando um menino escolheu uma boneca e uma menina escolheu um carrinho foram alvo de críticas e comentários: “Tu pegou a boneca, mas tu é menino. Boneca é de menina.” “Carrinho é de menino.” No início, foi necessário intervir para garantir as escolhas diferenciadas. Valeu a pena. As crianças conversaram durante a brincadeira e desconstruíram limites para o brincar através da brincadeira e do diálogo. “ Eu sou menino, mas eu gosto de brincar de boneca também.” “Eu vou até levar a minha filha pra passear.” “Mulher também dirige ué.” “Eu posso ser a Frozen?”
                                       
                Bem viver é poder ser e brincar do que quiser.

REFERÊNCIAS:
GENRO, Maria Elly Hertz. CEREGNATO, Célia Elizabete. Educação na e para a diversidade.

domingo, 22 de outubro de 2017

Areal do Futuro

A interdisciplina de Questões Étnico Raciais na Educação: Sociologia e História reuniu mais uma vez nosso grupo Mafalditas: Angela Nunes, Franciely Fava, Kátia Del Fabro e Mara Barcellos para exercitarmos nossa capacidade de trabalho coletivo e criativo. A atividade  proposta é a criação de um roteiro para vídeo.

“São tudo histórias menino. A história que está sendo contada, cada um a transforma em outra, na história que quiser. Escolha, entre todas elas, aquela que seu coração mais gostar, e persiga-a até o fim do mundo.” (Caio Fernando Abreu)

Escolha do assunto: 
Depois de um breve diálogo, optamos pela sugestão da Mara. Nossa escolha, foi determinada não apenas pelo tema, mas pelo material que dispomos para o roteiro: fotos e imagens na internet, história divulgada em site, representantes conhecidos e pelas facilidades de acesso: Escola e Quilombo próximos e em área central, onde todas podemos nos encontrar.

Resumo da História:
Antigamente, o Bairro Cidade Baixa era considerado “terra de ninguém”, de bandidos, de malfeitores e de escravos fugidos. Foi nessa terra de ninguém que nasceu o Quilombo do Areal da Baronesa. As margens do Guaíba vinham até o colégio do Pão dos Pobres, onde encontravam as areias da beira do rio. A Baronesa do Gravataí (hoje nome da rua onde fica uma das entradas do Areal), era senhora dessas terras e essa é a origem do nome. Nesse reduto temido pela sociedade da época, nasceu uma comunidade de resistência e cultura negra que se mantêm até hoje. O que manteve a união da comunidade não foi apenas o pedaço de terra, mas a preservação da identidade quilombola e a resistência dos que moram ali. As crianças dessa comunidade, estudam nas escolas que cercam o Areal da Baronesa e são elas o nosso foco central do roteiro. Elas são o futuro do Areal e queremos mostrar rapidamente, como elas estão construindo esse futuro, mantendo a consciência de pertencer a um reduto quilombola e fazer parte dessa história.

Roteiro: O Areal do Futuro
Este é apenas um esboço do nosso roteiro, que pode mudar e ser alterado conforme decidirmos posteriormente. Queremos usar nossos cinco minutos da melhor forma possível e a história é viva, respira, fala por si.
Cena 1: Frase de impacto sobre resistência negra. Quem sabe, um trecho apenas escrito da música “Kizomba, a Festa da Raça” de Martinho da Vila:
Cena 2: Sobreposição de imagens/passado e presente alternados/ breve resumo da história do Areal. Provavelmente fotos e imagens de arquivo.
Cena 3: Depoimentos professores do Olintho, intercalado com depoimentos alunos. Relação entre alunos quilombolas e professores. Consciência negra. Identidade. Aprendizagem. Preconceitos. Diversidade. Singularidade. Diferença. Igualdade.
Cena 4: Imagens do Areal do Futuro em ação. O que significa o Areal do Futuro para os alunos negros? Depoimentos ou vídeo.
Cena 5: De volta para o Futuro ou De Volta para o Começo da História, que é a criação de um foco de resistência e luta da cultura negra.
Cena 6: Sobe música “Kizomba, a Festa da Raça”, intercalando imagens.
Cena 7: Fim. Frase: “Valeu Zumbi.” Congela na imagem mais impactante. Pode ser uma fusão ou brincadeira com o tempo.

Rápida Reflexão:
Pode parecer um roteiro longo e complicado para ser realizado em cinco minutos, mas nosso filme será montado em pequenos recortes que se costuram e se entrelaçam, assim como faz a própria vida, unindo cenas de nossas histórias.

quinta-feira, 12 de outubro de 2017

Sobre avestruzes, crocodilos e nós mesmos.

                       
                               Que crocodilos habitam o fosso do teu castelo?             
                                        
     Vivemos num mundo de diferenças e diferentes. Ninguém é igual a ninguém no planeta terra. Nem mesmo os gêmeos ou os animais clonados. Em outras palavras: Todo mundo é diferente. Se é assim, porque as diferenças do outro podem nos assustar tanto. O texto “Sobre crocodilos e avestruzes: falando de diferenças físicas, preconceitos e sua superação", de Lígia Assumpção Amaral nos fala sobre isso. As metáforas dos avestruzes e crocodilos utilizadas pela autora, nos levam a refletir sobre a complexidade da questão em nosso mundo. A escrita de Lígia nos acorda para a visão e o conceito que temos do diferente e nos faz perceber que o diferente não é aquilo que é, mas antes de tudo o que vemos e o que é vemos é limitado e limitante, se restringindo apenas à nossa observação rápida e centrada na diferença do indivíduo.
         Reflitamos sobre o que realmente é ser diferente? Porque diferente e deficiência são e tornaram-se sinônimos? Que preconceitos colaboram e atestam essa correlação? A autora conceitua como diferença significativa aquilo que entendemos como fora de padrões ideais de uma sociedade e de uma cultura. O texto criativo e ao mesmo tempo complexo, nos empurra o tempo todo para a reflexão sobre o amplo tratado da problemática do preconceito e do estigma do ser diferente num mundo conceituado e alicerçado na generalização. Pensar no outro pela diferença é limitar capacidades e aprisionar o diferente à uma única condição.  A incapacidade do outro torna-se o delimitador de suas capacidades. O preconceito contra o diferente habita em nós e se manifesta de diferentes formas e sentimentos.
     Generalizamos, odiamos, evitamos contato e contágio, nos compadecemos, correlatamos linearmente a dificuldade, compensando a diferença com a generalização de uma característica, qualificamos o indivíduo como incapaz, em eterna desvantagem, pré-conceituamos o sujeito pela sua característica e pela sua diferença. Como professores, nos tornamos repetidores da estigmatização do diferente e das diferenças. Quando nos compadecemos do diferente o restringindo ao merecimento da pena pelo que não pode realizar da forma como pretendemos, como se houvesse uma única forma de aprender. Quando negamos ao sujeito sua capacidade e seu direito de ser o que é e fazer o que pode fazer do seu jeito. Quando subestimamos a capacidade do aluno diferente e focamos no negativo, antevendo e limitando seu avanço. Quando evitamos confrontar falas e atitudes preconceituosas nos outros alunos e em nossos pares. Quando evitamos questionar e confrontar o preconceito que habita em nós mesmos. Quando deixamos a rápida visão cegar nosso olhar sobre o outro. Quando paramos de refletir.
        Não há uma solução pronta para acabar com todos estes preconceitos e ideias preestabelecidas do diferente, mas podemos contribuir para transformar essa visão das coisas que envolvem as diferenças com o nosso trabalho pedagógico, com o diálogo envolvendo a participação de toda a comunidade escolar, educando nosso olhar para ver além da diferença e refletindo continuamente na busca de soluções. Talvez assim, possamos acordar do pesadelo de nossos preconceitos e todas as espécies de conceitos, sentimentos e sentidos possam coexistir de outra forma: avestruzes, crocodilos e homens.   

REFERÊNCIAS:
AMARAL, Lígia Assumpção. Sobre crocodilos e avestruzes: falando de diferenças físicas, preconceitos e sua superação, de Lígia Assumpção Amaral

domingo, 8 de outubro de 2017

O Preconceito é Sólido

      "O lugar de vocês é no tronco. Negros fora! Fora Negrada!” 

                   Alemanha nazista na década de 30? Não! UFSM hoje!!!!
          
                  
             Quando se define Modernidade, a primeira palavra que nos vem à cabeça é razão. Ao entrar na Modernidade, o homem teria conceitualmente entrado na era da razão e saído da era da superstição, dos dogmas religiosos e da cegueira do conhecimento. Esse alicerce sólido na razão, nos daria e garantiria um mundo melhor, mas evoluído e mais lúcido. O homem teria assim, a garantia de uma sociedade melhor e mais justa. A modernidade foi e tem sido apontada como o lugar do novo, da tecnologia, um espaço de tempo para presente o futuro. Modernidade significa romper com o antigo e buscar o novo. A expectativa dessa Modernidade imaculada pela razão, naufragou e se desfez diante do homem e pela mão do homem que desencantado com a desigualdade social, as lutas de classes, o Holocausto e duas guerras mundiais deixou de apostar cegamente na razão humana e naquilo que considerava sólido e indestrutível. Tudo passa a ser questionável e passível de desconstrução em tempo considerado líquido, onde nada dura muito tempo, porque nada pode durar.
             No entanto, a história do homem é contínua, ainda que insistamos em dividi-la para compreender melhor os fatos. Sendo assim, vivemos num mundo considerado Pós-Moderno que é a Modernidade continuada, transformada em busca pelo novo mais uma vez. O Moderno e Pós-Moderno se misturam, se completam e se repelem também na educação. Essa educação, que hoje não pode mais ser vista e praticada de forma unificada e padronizada, mas de forma única e singular em sua pluralidade, diversidade e na identidade dos sujeitos que a constituem, onde o global e o individual não se separam, mas se completam, se procuram, se reinventam, se reconhecem e se descobrem. Sendo assim, a educação não pode mais ser só razão, mas deve ser antes de tudo, reflexão.
            Essa relação entre modernidade e educação é contraditória. Como educar para a reflexão, se as escolas continuam a educar para repetição do conteúdo e do pensamento único? Que educação é essa nossa em nosso tempo? Estamos caminhando na direção do novo, das novas formas de aprendizagem, do respeito ao sujeito, da diversidade, da singularidade e da igualdade das diferenças? Há poucos dias, um crime de racismo chocou a todos e em especial a nós, que trabalhamos com educação. Estudantes negros, do curso de Direito, da Universidade Federal de Santa Maria, foram vítimas de preconceito racial e foram violentados em seus direitos básicos, de ser, de existir e de estudar. Estamos falando de racismo, mas não de um racismo oculto e envergonhado, mas de um racismo orgulhoso, que se expõe, provoca, intimida, segrega o humano e dissemina a ideia de que existe uma supremacia branca. Os tempos são de Modernidade Pós-Moderna, mas a história se repete. O que aconteceu em Santa Maria é o mesmo que aconteceu na Alemanha Nazista quando milhões pereceram por serem judeus, ciganos, homossexuais ou diferentes de alguma forma, no Apartheid da África do Sul, na limpeza racial e religiosa da Guerra da Bósnia, na invasão chinesa do Tibet...
              Há algo errado na formação dos estudantes racistas da UFSM, estudantes de Direito, que deveriam defender o que é certo e direito. Não sei se a universidade está apenas buscando os culpados pelo crime cometido. Não é o bastante. É preciso conscientizar os estudantes de Direito e a comunidade universitária em geral. O racismo não cabe e não deveria caber, onde se ensina, aprende, vive e respira a diversidade. Estariam sobrando ferramentas tecnológicas globalizadas em nossa educação e faltando aulas de história e filosofia? Quanto vale a educação ou é por kilo? Que Vênus Negra é essa cor negra exposta? Que olhar é esse nosso, sobre essa educação do século XXI? Infelizmente, a Modernidade é líquida, mas o preconceito é sólido.
                                                         
                
                                                          
 Referências:
Texto: Um olhar sobre a educação moderna do Século XXI. Luciani Missio e Jorge Luiz da Cunha.
Filme: Vênus Negra. Abdellatif Kechiche.


domingo, 1 de outubro de 2017

Sementes de Aprendizagem


“O ser humano é o único capaz de apoderar-se do passado e apoderar-se do futuro, de fazer ciência e refletir. Porque então, ensinamos os humanos como se fossem animais quaisquer a serem domesticados?”                                                                (Fernando Becker)

O vídeo “Escola - Mais Laboratório e Menos Auditório”, com a palestra do professor Fernando Becker, nos fez pensar sobre a função e o objetivo da escola. Fernando Becker nos faz refletir sobre a escola que é e a escola que pode ser. Sobre nosso papel como professores. Sobre o que é mais importante ao educar, ensinar e aprender.
A escola auditório conjuga os verbos copiar e repetir, mudam os assuntos, mas não muda o jeito de ensinar e aprender que é copiando e repetindo, repetindo e copiando. O aluno é uma tábula rasa a quem cabe apenas aceitar o conteúdo que lhe é transmitido. Este aluno não pensa, não questiona, não reflete, não inventa, não transforma. O professor indignado com o retorno inexpressivo se frustra, torna-se carrasco, cínico ou inanimado.
A escola laboratório faz o oposto, conjugando os verbos interagir, indagar, experimentar, tentar, sentir, cooperar, descobrir, ultrapassar, transformar, refletir. O professor deixa de ser o transmissor do conhecimento, de ser o único a emitir conhecimento, de impor suas ideias e visão do mundo. Como resultado disso, este professor que dialoga, intervem e toma consciência de seu papel. Os alunos da escola laboratório são capazes de refletir, construir, compreender, transformar, inventar, experimentar, experenciar, descobrir. A escola laboratório é interpretação e descoberta e não repetição.
Quando aquilo que aprendemos na universidade se torna real na universidade e em nossa escola ao mesmo tempo, é como se todo o universo conspirasse a nosso favor. Ver a sua escola e a sua universidade tornarem real a escola laboratório é algo que emociona. Fomos celebrar com a EMEI Tio Barnabé, a chegada da primavera no planetário da UFRGS, que organizou atividades de confraternização, aprendizagem e celebração para as crianças. 
Celebrando o Equinócio da Primavera, viajamos pelas estrelas, entre constelações, que irão dizer que não foi miragem, não foi bobagem, festa do sol. Oficinas de ciências, natureza, sementes, vida, contação de história, infância. Sementes na terra, sementes em nós, sementes de aprendizagem, sementes de diversidade, sementes de primavera.

Referências: 
Vídeo: Escola - Mais laboratório e Menos Auditório. Professor Fernando Becker. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=xjfKBGIHPjs



domingo, 24 de setembro de 2017

A polêmica necessidade do laudo

            

A recente discussão sobre o tema na interdisciplina de Educação de Pessoas com Necessidades Especiais provocou debate acirrado e não poderia ser diferente. O assunto é polêmico e gera polêmica. Necessidade especial não é sinônimo de laudo e não porque não se perceba as dificuldades ou necessidades especiais das crianças observadas. Laudo não é obrigação. Há muito mais envolvido do que o simples fato em si. Envolve não apenas a criança e suas particularidades, envolve a família e a dificuldade em aceitar a dura realidade, que significa, na maioria das vezes, um acompanhamento e uma dependência eterna da criança. Os sentimentos envolvidos são de confronto emocional extremo para os pais: De um lado, o amor dos pais pelo filho e tudo aquilo que desejaram e sonharam para criança e do outro, a negação por esse filho diferente que ninguém planejou, ninguém espera e ninguém sabe como lidar.
Há ainda a questão do despreparo da escola em lidar com a situação: Por vezes, a escola se cala para evitar o confronto maior e o choque dos pais, que pode gerar um colapso de enormes proporções. Deve-se levar em conta também, o apoio insuficiente do governo, em todos os sentidos, esse apoio é mínimo: tanto para a criança quanto para a família. Em relação aos educadores, o descaso é total. Não há apoio estrutural humano e nem apoio emocional. Impotentes diante das situações conflito que surgem na já estafante rotina da educação infantil, impotentes em estimular a aprendizagem da criança como sabem que seria o certo e com a falta de apoio da família e da escola, os educadores adoecem com frequência.  O desgaste sofrido em todas as turmas provoca um ciclo de doenças, provocadas principalmente pelo stress constante. Adoecem os educadores, adoece a família, adoece a escola e adoece ainda mais a criança, que nesse turbilhão de desassistidos, fica ainda mais necessitada de um apoio que não vem, apesar de ser garantido por lei.
A inclusão é uma realidade, mas inclusão não é apenas abrir as portas da escola e do nosso trabalho para as crianças com laudo, crianças com necessidades especiais sem laudo são também uma realidade, ainda que não registrada oficialmente. O isolamento delas, a solidão delas, as dificuldades ignoradas delas, a angústia e o medo delas são nossos também.  Somos invisíveis para o governo e reais em nosso mundo. Essa invisibilidade não quer dizer que a gente apoie o exagero que inclui laudos precipitados, a propagação de laudos, a segregação da aprendizagem, a delimitação das possibilidades do sujeito, o laudo como preconceito, o laudo como rótulo e o laudo como redutor de expectativa e de possibilidade de aprendizagem. Uma das maiores conquistas da LBI (Lei Brasileira de Inclusão) é a mudança de entendimento no conceito de deficiência que agora não se refere mais à pessoa, mas aos espaços deficientes para incluir a todos. A escola como espaço de educação deveria estar preparada para receber, atender e educar à todas as crianças, se não está, precisamos rever nossos conceitos de estrutura e de trabalho.

Referências:
Vídeo: O papel da escola, do professor e da educação inclusiva. Professor Carlos Bernardo Skliar. USC TV 2017. Disponível no YouTube.
Reportagem: O bom professor não usa laudo como desculpa. Leandro Beguoci. Revista Nova Escola. 

domingo, 17 de setembro de 2017

Filosofia da Ética na Educação

                         

O conhecimento filosófico tem como origem a capacidade de reflexão. Na interdisciplina de Filosofia da Educação fomos chamados a refletir sobre a ética, analisando diferentes abordagens e conceitos: Arte de viver x Arte de conviver; Pensamento x Ação; Individualidade x Coletividade; Fato X Interpretação; Ética x Moral; O eu x O outro; Teoria x Prática; Falar x Fazer; Diálogo x Ordem; Fala x Escuta; Educação x Doutrinação.
O texto “Ética a Aprendizagem na Arte de Viver,” de Nadja Hermann, nos fala essencialmente da arte de saber e aprender a viver. Utilizando ideias e pensamentos filosóficos conhecidos a autora sugere como a filosofia da educação pode ser trabalhada como a arte de viver. A filosofia pode auxiliar na formação ética por meio da reflexão em relação à própria vida, mas não no sentido de doutrinar a um modelo de comportamento ético moral pré-estabelecido. Não significa ignorarmos individualidades. A arte de viver e a filosofia misturam pensamento, emoção, sensibilidade, sentimento, história da memória e da pele. 
O aforismo "Conhece-te a ti mesmo", escrito na entrada da parede do templo de Delfos, construído em homenagem à Apolo, o deus grego do sol, da beleza e da h é um conselho para o homem. Apolo está a nos lembrar da importância do autoconhecimento para ser feliz e encontrar a harmonia e a felicidade na vida. Nadja traduz a arte do viver.
Márcia Tiburi também nos fala sobre ética e filosofia, mas através de outra abordagem, que é o significado e a tradução da ética em ação: "Ética é o que fazemos aos outros." Márcia nos lembra que para existir eu, tem que existir o outro e que respeitar o direito do outro é respeitar o meu  próprio direito. O vídeo é um chamado para a ética, no sentido de coletividade e convivência do individuo na sociedade. Em outras palavras: Todo mundo quer ser feliz, mas ninguém é feliz sozinho. É preciso conviver com os outros. Márcia Tiburi traduz a arte do conviver.
Individualidade e coletividade não são conceitos antagônicos. Viver e conviver são verbos e ações conjugados e compartilhados conjuntamente em nossa rotina como humanos. Nosso desafio como professores, está em provocar reflexão sobre essa relação entre o que é particular e singular e o que é social e coletivo. Essa reflexão constante é a essência da arte do viver e conviver. Muitas vezes, esquecemos que educar para moral é diferente de educar para a ética. impor regras de convivência é completamente diferente de conversar e refletir sobre.
Conhecer nossos alunos e respeitar suas singularidades pode ser o começo para educar para a ética, não apenas em pensamento, mas em transformação. A educação para a ética não pode ser traduzida como a obrigação para a ética. Não basta obrigar a fazer o que é certo. Nosso objetivo como professores deve ser o de educar para a compreensão, pensamento e ação do que é certo e bom para o eu e para o outro. A educação da ética não começa pela cobrança da ação e do resultado, começa pela autonomia, pelo respeito à identidade e à diversidade, pela escolha, começa pela liberdade já dizia Sartre:

"A liberdade é o fundamento de todos os valores." (Jean Paul Sartre)

Referências:
HERMANN, Nadja. Texto "A Aprendizagem na Arte de Viver."
TIBURI, Márcia. Vídeo "Ética e Filosofia.'

domingo, 10 de setembro de 2017

Preconceito e Autoestima

                           
            
            “A educação é um ato permanente.” (Paulo Freire)

Todos nós somos desafiados a trabalhar a questão do preconceito, do racismo, da desigualdade social, da não aceitação do outro e de si mesmo em nossas escolas.  Educar para as relações étnico-raciais é educar para as diferenças e para a diversidade. O respeito à cultura, a corporeidade, a estética e a presença do outro são fundamentais nesse processo.
Na turma em que trabalho, maternal 2, surgiram diversas situações envolvendo atitudes preconceituosas em relação a cor da pele, cabelo, beleza, feiura... Situações que revelaram para nós educadoras, não apenas o preconceito do outro, mas a baixa autoestima que algumas crianças têm de si mesmas... A desvalorização de si mesmo é social e cultural. De acordo com Gomes:
No Brasil, foi construído ao longo da história, um sistema classificatório relacionado com as cores das pessoas. O cabelo, transformado pela cultura como sinal mais evidente da diferença racial (...) nesse processo, as cores “branca” e “preta” são tomadas como representantes de uma divisão fundamental do valor humano – “superioridade” / “inferioridade”

O Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil (RCNEI, 1998) nos diz que a autoestima que a criança vai se desenvolvendo é, em parte, interiorização da estima que se tem por ela e da confiança da qual é alvo. O que fazemos em sala de aula, o que dissemos, o que propomos e o que ignoramos, silenciamos ou negligenciamos em torno dessa questão pode perpetuar preconceitos ou despertar a valorização das diferenças e da autoestima. 
Depois de discutir o assunto em nossa reunião de equipe, decidimos planejar nossas ações e atividades nesse sentido. Foi assim que nasceu a ideia de envolver as famílias na atividade que tem como objetivo a desconstrução dos preconceitos em relação à beleza e a valorização das diferenças que nos tornam únicos a todos nesse mundo. Cada criança recebeu um boneco de pano em tecido cru, de cor neutra, para junto com a família reproduzir a si mesmo.
Passados alguns dias, o retorno nos surpreendeu. Algumas crianças reproduziram nos bonecos de pano suas características de forma tão real que eram prontamente reconhecidos pela turma: “Mas tá igualzinha Ane. Nem precisava dizer que é tu.” “É o teu cabelo , tem cachinho Cauê.” “O boneco do Joaquim tem olho verde e tá gordinho. É ele.”  Outros não foram reconhecidos pela turma: “Mas Duda, esse cabelo não é o teu. Tá liso e o teu é crespo.” “Mas eu fiz chapinha na minha boneca para ela ficar bonita.” “Erick tu não é branco, mas o teu cabelo tá igual, que nem o do Neymar.”
Vale dizer aqui, que nenhuma das crianças negras pintou a pele do boneco para evidenciar sua cor, mostrando que temos muito caminho a percorrer e muito que trabalhar nesse sentido com as crianças e com as famílias.
Seria muito fácil fazer as crianças pintarem os bonecos da cor que nos faria sentir politicamente corretas e liberadas da situação problema, mas decidimos seguir em outra direção. A direção do fazer pensar, questionar, aprender, criticar, decidir,  escolher, mudar e transformar.
Por isso, os bonecos viraram chamadinha e são reapresentados diariamente na roda com elogios diários sobre a beleza e as diferenças de cada um: “O cabelo do Cauê tem cachinho, parece um anjo.” “O Erick tá lindo com essa roupa de jogador de futebol.” “O cabelo da boneca da Duda tá lindo, mas o da Duda é muito mais bonito.” A roda tem sido uma aliada na discussão e aprendizagens sobre nossas diferenças. “Tem cachinho grande e pequeno.” “Tem cabelo liso e crespo.” “Tem pele negra e branca.” “Tem pele mais clara e mais escura.”  “Tem cor de pele de um monte de jeito.” "Tem cabelo de todo o jeito." “Eu posso cortar meu cabelo e alisar.” “Eu também sou bonito.” “Todo mundo é diferente.” “Todo mundo é bonito.”


REFERÊNCIAS:


SECAD- Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade. Orientações e Ações para a Educação das Relações Étnico- Raciais. Brasília, 2016.

Além da Caverna

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Quando pensamos que a escolha entre o mundo virtual e o mundo real é uma discussão ou escolha de nossos tempos modernos, Leandro Karnal nos lembra que a essa decisão remonta à Antiguidade, ao “Mito da Caverna”, nos fazendo pensar sobre como interpretamos e decidimos sobre o que vemos e dividimos nas redes sociais e de como nossa interpretação e percepção desse mundo trafega entre o irreal e a realidade. Fundamental a questão do tempo nessa avaliação. O tempo, não visto apenas como o tempo das redes sociais, mas o tempo de cada indivíduo, o tempo da geração do indivíduo. Para enxergar superioridade no mundo real é preciso ter tido e ter contado com o mundo real, ter sido educado para poder escolher e preferir o contato com o outro ao vivo e não o intermediado por uma máquina. Essa fala para mim é o principal ponto da questão.
Não se trata de ignorar os avanços proporcionados pelo mundo virtual e pelas redes sociais, mas realmente, não há bônus sem ônus. Se “estudar é uma atitude frente ao mundo”, como nos recorda o texto “O Ato de Estudar”, há que refletirmos sobre o nosso trabalho como educadores nesse processo, que envolve acima de tudo educar, não apenas para transmitir informações e repassar conhecimentos, mas para libertar o pensamento, escolha e opinião dos nossos alunos para poderem decidir de forma crítica sobre as imagens que estão além da caverna.
Como aqueles que ensinamos terão o poder de escolha, senão proporcionarmos conteúdo, razões e possibilidades de aprendizagem que proporcionem reflexão sobre o mundo real e o mundo virtual? O texto “Trabalho da Crítica do Pensamento”, nos diz que o uso da razão é fundamental para a crítica e que a crítica não é dona da verdade, mas antes de tudo, uma interpretação, uma forma de pensar sobre o assunto. Razão exige pensamento, percepção, reflexão. Reflexão exige tempo, autocrítica e redução do narcisismo, que é exatamente que nos falta nas redes sociais.
Precisamos encontrar uma relação entre os dois mundos: o de dentro da caverna e o de fora da caverna, entre o mundo real e o mundo virtual. Encontrar um jeito de vencer o medo e a ilusão das sombras, romper nossas próprias correntes, nossos preconceitos, nossas ideias pré-estabelecidas sobre tudo e sobre todos. Precisamos parar de ter aquela velha opinião formada sobre tudo. 
Se nem todas as imagens que vemos fora da caverna são reais, se nem tudo que vemos nas redes sociais é real, que agente tente colocar verdade naquilo que entendemos como é e pode ser a educação, que agente possibilite aos nossos alunos irem além da caverna e que a gente se permita também, ir além da caverna.

REFERÊNCIAS:

HÜHNE, Leda Miranda. O ato de estudar. Editora Agir, RJ:1992.
Texto: O Trabalho da crítica do Pensamento. Marilena Chauí.
Vídeo: Oimpacto das redes sociais na vida das pessoas.Leandro Karnal. Disponível no youtube.