[...] Constatada em
determinado momento e sociedade, qualquer diferença é, ao mesmo tempo, um
resultado e uma condição transitória. Resultado, se consideramos o passado e
privilegiamos o processo que resultou em diferença. Mas ela é igualmente um
estado transitório, se privilegiamos a continuidade da dinâmica, que vai
necessariamente alterar este estado no sentido de uma configuração posterior
(Semprini, 1999, p. 11)
O brincar é um processo histórico e cultural e foi
através deste processo que meninos e meninas tiveram brincadeiras destinadas a
eles. Brincando a criança experimenta situações e emoções, se estrutura,
reconhece o outro e se reconhece, começa a se colocar no mundo e a se
relacionar com este mundo. A história das brincadeiras das crianças foi sendo construída
de acordo com a história e a cultura social. Não existe um brincar certo ou
errado para meninos e meninas, mas existem convenções sociais do brincar,
assim, brincar de boneca é considerado coisa de menina e brincar de carrinho é
considerado coisa de menino, como se o brincar pudesse ser separado por gênero.
A cultura, a tradição e a sociedade reforçam e
valorizam esta separação, rejeitando modos diferentes de ser, de agir e de
pensar, mas quando falamos de crianças falamos de possibilidades, de mudanças,
de novas formas de pensar e de agir. Por isso, mesmo conhecendo conceitos
pré-estabelecidos, as crianças encontram um jeito de refazer, de fazer o não
permitido e de viver o inusitado.
A cultura influencia o brincar e as decisões do
brincar, mas não impede, não limita e nem proíbe novas formas de brincar. Desse
modo, precisamos pensar sobre a utilização dos brinquedos pelas crianças, sobre
nossas práticas educativas, os processos e as condições que estabelecem as
possibilidades do brincar dentro da escola.
O texto “Educação na e para a diversidade,” nos diz que a escola tem o
compromisso ético de colocar em debate as diferenças, tendo em vista a formação
do sujeito para o convívio social nas e para as diferenças. O papel da escola é
desenvolver nos sujeitos as noções de reciprocidade, pluralidade,
experimentação e criticidade na perspectiva do bem viver potencializando os
direitos humanos.
Nossa proposta de atividade foi criar um ambiente
desafiador para provocar o diálogo, a crítica, a reflexão e o respeito pela
diversidade no brincar. Para isso, montamos um ambiente diferente. As crianças
foram convidadas a entrar embaixo de uma cabaninha de plástico transparente
onde havia carrinhos e bonecas para escolha individual. A medida que iam
entrando na cabana, cada uma escolhia um brinquedo. Quando um menino escolheu
uma boneca e uma menina escolheu um carrinho foram alvo de críticas e
comentários: “Tu pegou a boneca, mas tu é menino. Boneca é de menina.” “Carrinho
é de menino.” No início, foi necessário intervir para garantir as escolhas
diferenciadas. Valeu a pena. As crianças conversaram durante a brincadeira e
desconstruíram limites para o brincar através da brincadeira e do diálogo. “ Eu
sou menino, mas eu gosto de brincar de boneca também.” “Eu vou até levar a
minha filha pra passear.” “Mulher também dirige ué.” “Eu posso ser a Frozen?”
Bem viver é poder ser e brincar do que quiser.
REFERÊNCIAS:
GENRO, Maria
Elly Hertz. CEREGNATO, Célia Elizabete. Educação
na e para a diversidade.
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