quinta-feira, 5 de janeiro de 2017

Domesticação dos Animais

Este talvez tenha sido o maior desafio deste semestre. Nunca é fácil fazer um trabalho em grupo. São várias cabeças pensantes (no caso cinco). Em determinado momento, o trabalho mais parecia um bicho de 5 cabeças. Nossas dúvidas pareciam muito maiores que nossas certezas. Nos perdemos muitas vezes, mas sempre voltamos para a pesquisa cada uma à sua maneira. O resultado final nos surpreendeu à todas.

"Todas as coisas podem ser ensinadas por meio de projetos, basta que se tenha uma dúvida inicial e que se comece a pesquisar e buscar evidências sobre o assunto". (HERNÁNDEZ: 2000, p. 88).

Como começou a domesticação dos animais?

Desde os primórdios da humanidade, há uma relação estreita entre o homem e os animais. Há inúmeros registros dessa relação pré- histórica que começou com nossos ancestrais nos tempos das cavernas.  A antiguidade dessa relação pode ser confirmada com os registros das pinturas rupestres. Na Caverna de Altamira na Espanha, foram encontrados desenhos que datam 12.000 mil anos a. C. As pinturas rupestres encontradas na França, na Caverna de Laucaux existem há 17.000 mil anos e as da Caverna de Chauvet  na França têm 30.000 mil anos.  As 425 pinturas na Caverna de Chauvet representam animais cavalos, bovídeos, veados, leões, rinocerontes, ursos, corujas e veados. Os desenhos são de uma qualidade e técnicas impressionantes. Essa relíquia arqueológica pode ser vista no filme ser vistos no documentário em 3D do cineasta alemão Werner Herzog: “A Caverna dos Sonhos Esquecidos.” O filme revela a importância deste patrimônio  cultural para a humanidade e trás depoimentos de arqueólogos, espeleólogos e antropólogos.
Os achados rupestres revelam que nossos ancentrais desenvolveram habilidades cognitivas e intelectuais muito antes do que os cientistas calculavam inicialmente. Mas o que tornou o homem tão capaz desde os tempos primitivos? Teriam os animais contribuído para que nossas habilidades pudessem se desenvolver? O que fez com que nossos ancestrais primatas evoluíssem a ponto de desenvolver a capacidade de raciocinar? Existem muitas teorias a esse respeito, mas uma delas destaca a participação e a importância dos animais para este processo de humanização da nossa espécie. A pesquisadora  norte americana Pat Shipman, da Universidade da Pensilvânia publicou um artigo científico na revista “Current Anthropology”, propondo que o nosso contado com os animais desde 2,6 milhões de anos atrás, contribuiu para desenvolver o nosso intelecto. Segundo a pesquisadora, quando viramos carnívoros passamos  a observar e compreender como os bichos se comportavam. Para disseminar o conhecimento adquirido com os animais teríamos criado a linguagem: “Nossos ancentrais tiveram que entender o  comportamento dos animais porque eram presa e a partir da criação de ferramentas, também viraram predadores. Esse entendimento levou à linguagem e, em um último estágio à domesticação dos animais.”Neste caso, não seria contraditório afirmar que nós animais racionais devemos nosso raciocínio e inteligência aos animais irracionais.
O primeiro animal a ser domesticado pelo homem foi o lobo. A relação teria começado quando os lobos rondavam as cavernas e as populações humanas em busca de sobra de alimentos e carcaças e os homens começaram a dar abrigo aos filhotes de lobos que rondavam seus acampamentos. Esses animais teriam sido atraídos para o convívio humano. Essa relação tinha função utilitária para ambas as espécies: o “cão lobo” ajudava na caça e na proteção do homem contra outros animais selvagens em troca de comida. Os lobos mais agressivos acabaram sendo mortos pelos humanos e os animais mais dóceis evoluíram para poder manter a convivência com  os humanos e se transformar no cachorro. O cão passou por um processo intenso de domesticação até ser considerado o melhor amigo do homem. A evidência arqueológica mais antiga dessa relação data de 12 mil anos atrás e foi entrada em Israel, onde a descoberta do túmulo de uma mulher abraçada com seu cão impressionou os arqueólogos, mas alguns estudiosos remontam esta relação há 150 mil anos atrás.
Quando os homens tornaram-se sedentários e passaram a cultivar sementes, outros animais começaram a ser domesticados por nossa espécie. Isso porque as plantações de trigo e cevada passaram a atrair equinos, suínos, ovinos e caprinos selvagens que invadiam as lavouras primitivas buscando comida. Esses animais relativamente mansos e deram origem aos primeiros rebanhos. Isso trouxe vantagens incríveis para os humanos que a partir de então, tinham proteína animal ao seu alcance, não precisando mais correr os riscos das caçadas aos animais selvagens. Os depósitos de grãos dos humanos também atraíam uma grande quantidade de roedores que estragavam a comida e espalhavam doenças. Para controlar essa praga só mesmo os gatos. Restos de felino encontrados nas ruínas de Jericó, no território da Cisjordânia, indicam que os gatos já faziam parte do convívio humano desde o período neolítico, há 9.000 anos, mas foi no Egito, há cerca de 5.000 anos que os gatos ganharam o status de deuses, sendo adorados nos templos e protegidos nas casas.
Esta relação entre o homem e os animais vem sofrendo transformações ao logo do tempo. Nossos companheiros de jornada desde os primórdios têm sido usados por nós como um meio de subsistência e sobrevivência desde o início. Essa relação entre a domesticação dos animais e o interesse humano persiste, mas não se faz única. Essa íntima relação também está em constante evolução e hoje a domesticação dos animais não tem apenas um objetivo utilitário, está firmemente alicerçada em questões afetivas e o homem está cada vez mais dependendo dos animais nesse sentido.  Ainda que o homem use o animal doméstico para obter carinho e companhia, onde existe afetividade, existe troca. Estariam os animais mais uma vez nos ensinando algo que não podemos compreender em nossa própria espécie? Poderiam eles, usados por nós de forma utilitária desde sempre, nos ensinar a importância do afeto sem interesses utilitários? Caminhamos lentamente para o inverso. Cada vez mais o homem questiona a sua relação com os animais e a forma como se utiliza da domesticação dos animais. Essa relação transformada nos leva a um novo ciclo dessa mesma relação. O animal passa a domesticar o homem no sentido de fazê-lo perceber que não é a "espécie soberana", mas uma entre as espécies que habitam o planeta terra.

Referências:



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