Este
talvez tenha sido o maior desafio deste semestre. Nunca é fácil fazer um
trabalho em grupo. São várias cabeças pensantes (no caso cinco). Em determinado
momento, o trabalho mais parecia um bicho de 5 cabeças. Nossas dúvidas pareciam muito maiores que nossas certezas. Nos perdemos muitas
vezes, mas sempre voltamos para a pesquisa cada uma à sua maneira. O resultado
final nos surpreendeu à todas.
"Todas as coisas podem ser ensinadas por
meio de projetos, basta que se tenha uma dúvida inicial e que se comece a
pesquisar e buscar evidências sobre o assunto". (HERNÁNDEZ: 2000, p. 88).
Como
começou a domesticação dos animais?
Desde
os primórdios da humanidade, há uma relação estreita entre o homem e os
animais. Há inúmeros registros dessa relação pré- histórica que começou com
nossos ancestrais nos tempos das cavernas. A antiguidade dessa relação pode ser
confirmada com os registros das pinturas rupestres. Na Caverna de Altamira na
Espanha, foram encontrados desenhos que datam 12.000 mil anos a. C. As pinturas
rupestres encontradas na França, na Caverna de Laucaux existem há 17.000 mil
anos e as da Caverna de Chauvet na
França têm 30.000 mil anos. As 425
pinturas na Caverna de Chauvet representam animais cavalos, bovídeos, veados, leões,
rinocerontes, ursos, corujas e veados. Os desenhos são de uma qualidade e
técnicas impressionantes. Essa relíquia arqueológica pode ser vista no filme
ser vistos no documentário em 3D do cineasta alemão Werner Herzog: “A Caverna
dos Sonhos Esquecidos.” O filme revela a importância deste patrimônio cultural para a humanidade e trás depoimentos
de arqueólogos, espeleólogos e antropólogos.
Os
achados rupestres revelam que nossos ancentrais desenvolveram habilidades
cognitivas e intelectuais muito antes do que os cientistas calculavam
inicialmente. Mas o que tornou o homem tão capaz desde os tempos primitivos?
Teriam os animais contribuído para que nossas habilidades pudessem se
desenvolver? O que fez com que nossos ancestrais primatas evoluíssem a ponto de
desenvolver a capacidade de raciocinar? Existem muitas teorias a esse respeito,
mas uma delas destaca a participação e a importância dos animais para este
processo de humanização da nossa espécie. A pesquisadora norte americana Pat Shipman, da Universidade
da Pensilvânia publicou um artigo científico na revista “Current Anthropology”,
propondo que o nosso contado com os animais desde 2,6 milhões de anos atrás,
contribuiu para desenvolver o nosso intelecto. Segundo a pesquisadora, quando
viramos carnívoros passamos a observar e
compreender como os bichos se comportavam. Para disseminar o conhecimento
adquirido com os animais teríamos criado a linguagem: “Nossos ancentrais
tiveram que entender o comportamento dos
animais porque eram presa e a partir da criação de ferramentas, também viraram
predadores. Esse entendimento levou à linguagem e, em um último estágio à
domesticação dos animais.”Neste caso, não seria contraditório afirmar que nós
animais racionais devemos nosso raciocínio e inteligência aos animais
irracionais.
O
primeiro animal a ser domesticado pelo homem foi o lobo. A relação teria
começado quando os lobos rondavam as cavernas e as populações humanas em busca
de sobra de alimentos e carcaças e os homens começaram a dar abrigo aos
filhotes de lobos que rondavam seus acampamentos. Esses animais teriam sido
atraídos para o convívio humano. Essa relação tinha função utilitária para
ambas as espécies: o “cão lobo” ajudava na caça e na proteção do homem contra
outros animais selvagens em troca de comida. Os lobos mais agressivos acabaram
sendo mortos pelos humanos e os animais mais dóceis evoluíram para poder manter
a convivência com os humanos e se transformar
no cachorro. O cão passou por um processo intenso de domesticação até ser
considerado o melhor amigo do homem. A evidência arqueológica mais antiga dessa
relação data de 12 mil anos atrás e foi entrada em Israel, onde a descoberta do
túmulo de uma mulher abraçada com seu cão impressionou os arqueólogos, mas
alguns estudiosos remontam esta relação há 150 mil anos atrás.
Quando
os homens tornaram-se sedentários e passaram a cultivar sementes, outros
animais começaram a ser domesticados por nossa espécie. Isso porque as
plantações de trigo e cevada passaram a atrair equinos, suínos, ovinos e
caprinos selvagens que invadiam as lavouras primitivas buscando comida. Esses
animais relativamente mansos e deram origem aos primeiros rebanhos. Isso trouxe
vantagens incríveis para os humanos que a partir de então, tinham proteína
animal ao seu alcance, não precisando mais correr os riscos das caçadas aos
animais selvagens. Os depósitos de grãos dos humanos também atraíam uma grande
quantidade de roedores que estragavam a comida e espalhavam doenças. Para
controlar essa praga só mesmo os gatos. Restos de felino encontrados nas ruínas
de Jericó, no território da Cisjordânia, indicam que os gatos já faziam parte
do convívio humano desde o período neolítico, há 9.000 anos, mas foi no Egito,
há cerca de 5.000 anos que os gatos ganharam o status de deuses, sendo adorados
nos templos e protegidos nas casas.
Esta
relação entre o homem e os animais vem sofrendo transformações ao logo do
tempo. Nossos companheiros de jornada desde os primórdios têm sido usados por
nós como um meio de subsistência e sobrevivência desde o início. Essa relação
entre a domesticação dos animais e o interesse humano persiste, mas não se faz
única. Essa íntima relação também está em constante evolução e hoje a
domesticação dos animais não tem apenas um objetivo utilitário, está firmemente
alicerçada em questões afetivas e o homem está cada vez mais dependendo dos
animais nesse sentido. Ainda que o homem
use o animal doméstico para obter carinho e companhia, onde existe afetividade,
existe troca. Estariam os animais mais uma vez nos ensinando algo que não
podemos compreender em nossa própria espécie? Poderiam eles, usados por nós de
forma utilitária desde sempre, nos ensinar a importância do afeto sem
interesses utilitários? Caminhamos lentamente para o inverso. Cada vez mais o
homem questiona a sua relação com os animais e a forma como se utiliza da
domesticação dos animais. Essa relação transformada nos leva a um novo ciclo
dessa mesma relação. O animal passa a domesticar o homem no sentido de fazê-lo
perceber que não é a "espécie soberana", mas uma entre as espécies
que habitam o planeta terra.
Referências:
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