domingo, 25 de dezembro de 2016

Cidade Baixa Coração Pulsante

                                                                
Para compreender a Cidade Baixa, suas características peculiares como bairro de Porto Alegre, resgatando assim, a memória e a identidade do bairro.

Cidade Baixa coração pulsante de Porto Alegre

A delimitação atual do bairro Cidade Baixa abrange as avenidas Praia de Belas, Getúlio Vargas, Venâncio Aires, João Pessoa e parte da Borges de Medeiros. A “Cidade Baixa Antiga era bem maior: compreendia toda a região que ficava ao sul da Rua Duque de Caxias. Já havia projetos para arruamento do bairro desde 1856, mas boa parte do bairro  permaneceu desabitada por muitos anos.
Era na Cidade Baixa que se refugiavam os escravos fugidos e também os foragidos da justiça. É difícil para quem conhece hoje o bairro tão badalado e valorizado atualmente, imaginar que houve um tempo, em que o trecho entre a Avenida Venâncio Aires e a atual Rua da República era conhecido como “Emboscadas” (um terreno baixo e acidentado coberto de árvores e capões), que segundo a imprensa da época, era uma zona de meter medo aos mais valentes.
Foi com a implantação das linhas de bonde de tração animal, que passava pelo Caminho da Azenha (Avenida João Pessoa) e da Rua da Margem (João Alfredo), contribuiu para a urbanização do local. A antiga Rua da Margem era atravessada por várias ruelas chamadas de becos: Beco do Vintém, Beco do Curral das Éguas, Beco dos Coqueiros e Beco Ajuda-me a Viver.
Em 1880 as ruas surgiram no bairro com nomes de políticos famosos:  Lopo Gonçalves, Luiz Afonso, José Bonifácio, João Alfredo, José do Patrocínio. A Rua Joaquim Nabuco também surgiu nessa época, mas era chamada de Travessa dos Venezianos (para homenagear “Os Venezianos”), famoso  grupo carnavalesco.
O bairro ficou conhecido como um bairro de “classe média”. As famílias sentavam em suas cadeiras na frente das casas para longas conversas e compravam  o que precisavam em armazéns d e “secos e molhados” ( o super mercado de antigamente).
O carnaval da Cidade Baixa era conhecido e famoso. Depois o carnaval de Porto Alegre foi sendo elitizado indo para dentro dos clubes (em 1930 quem tinha berço só brincava nos clubes) e foi assim por décadas.  Até o carnaval retornar para a rua com as escolas de samba, as tribos e os blocos dos clubes. A primeira escola de samba de Porto Alegre foi a Praiana criada em 1960. Recentemente, o carnaval de rua de Porto Alegre renasceu em seu berço: A Cidade Baixa. Esse renascimento aconteceu com a volta dos blocos de rua que hoje atraem multidões para aquele que é considerado o melhor carnaval de Porto Alegre.
A Cidade Baixa é hoje um dos metros quadrados mais valorizados de Porto Alegre e um lugar badalado repleto de barzinhos, cafés e vida noturna, mas não é só isso que torna o bairro peculiar e atrativo: A proximidade com o centro da cidade, com a UFRGS, com os três poderes: Executivo, Legislativo e Judiciário, com o pulmão da cidade (o Parque da Redenção, com a alma dos porto alegrenses permeada pelo Lago Guaíba (eternamente Rio), com a herança quilombola e um carnaval de rua maravilhoso faz do bairro uma espécie de coração pulsante de Porto alegre. Palco de manifestações políticas que geram polêmica, mas mantêm eterna a voz dos excluídos, dos que não se conformam, dos que lutam. Não foi assim que o bairro começou?


Referências:

FERREIRA, Athos. Colóquios com a minha cidade. Porto Alegre: Editora Globo, 1974.

WERNER, Gilberto. Antiga Cidade Baixa - A História. Porto Alegre: Editado pela Prefeitura de Porto Alegre, 2013

FRANCO, Sérgio da Costa. Porto Alegre. Guia Histórico. Editora UFRGS, 1992.

MACEDO, Francisco Riopardense. Porto Alegre história e vida da cidade. Porto Alegre: Editora UFRGS, 1973.

domingo, 18 de dezembro de 2016

Sobre Perguntas e Respostas

Na interdisciplina de Representação do Mundo pelas Ciências Naturais fomos levadas pensar sobre a curiosidade das crianças em relação aos fenômenos naturais e sua capacidade para encontrar soluções para as próprias dúvidas e questionamentos. Para exercitar a dimensão disto e refletir sobre essa questão, cada uma de nós publicou uma experiência com essa proposta no fórum inventário de perguntas das crianças. 
Brincando de desenhar dinossauros com a luz do sol as crianças do jardim A fizeram perguntas interessantes:
“Prof.  Kátia , que legal! Isso é um truque?”(Marina)
“Tu acha que isso é um truque?”
“Sei lá... Eu acho que é o sol que tá fazendo a sombra.”(Marina)
“Então tu acha que a luz do sol faz a sombra?”
Porque eu boto onde não tem o sol e daí não aparece nada.”(Marina)
“Mas quando a prof.  fez o teatro de Luz e Sombra não tinha sol. A gente tava no escuro. Como é que pode isso me explica?”(Miguel)
“O que tu acha que aconteceu?”
“Prof. lá não tinha sol mas tinha luz da lanterna prof. como se fosse o sol né?”(Miguel)

A criança é uma pesquisadora nata. Está no mundo ávida para descobrir as coisas do mundo. Nosso papel como professores não é saber tudo, nem ter todas as respostas. Nossa função é estimular essa curiosidade e a busca de respostas. As crianças são capazes de encontrar respostas, formular hipóteses e encontrar soluções. Isso não elimina nossa obrigação de estarmos sempre atentos aquilo que ensinamos, mas nos torna cientes de que não é necessário responder tudo. O mais importante é a pergunta e as buscas pelas respostas. A pergunta é o ponto de partida para o conhecimento. Por isso, perguntar, questionar e duvidar é tão importante. Perguntar abre uma ponte para o diálogo, para a discussão e para o entendimento. Perguntar provoca novas inquietudes, novos questionamentos. Gera conclusões, percepções, ideias, conhecimento.






terça-feira, 13 de dezembro de 2016

Fotografia e Memória Docente

                                                     
                                 
                                
           “Fotografia é memória e com ela se confunde.” (Boris Kossoy, 2001)


Memória é a capacidade de guardar nossas lembranças e experiências vividas em nossas mentes.  A fotografia é um armazenador da memória, ela preserva o passado(tempo), congela e revela lembranças. Memória tem a ver com tempo e armazenamento de informações. A memória reconstitui o passado e é indispensável para a compreensão da identidade e da história. A fotografia é um ativador e um portador da memória viva e fotografar é perpetuar a memória.

Proust considerava a memória mais importante que a vida: “Pois um acontecimento vivido é finito, ou pelo menos encerrado na espera do vivido, ao passo que o acontecimento lembrado é sem limites, porque é a apenas uma chave para tudo que veio antes e depois.” (BENJAMIN 1986, p. 37)

A memória organizada por fotos pode ser uma excelente possibilidade de aprendizagem, mas também está sujeita a manipulação intencional ou não. A fotografia é reconhecida como prova de veracidade dos fatos e também como prova incontestável, mas sabemos que a fotografia não representa apenas a realidade e a objetividade, ela também é a subjetividade do olhar de quem registra a cena. Precisamos ter em mente ainda que nossas memórias se transformam e modificam com o tempo.

Escolher fotos, tentar reconstruir momentos com detalhes, misturar sentimentos e intenções, pode criar novas possibilidades de organização de fatos e sequências de memória. Os significados e o conteúdo significante das fotos podem mudar. A veracidade dos fatos depende do subjetivo e o subjetivo pode falsear e ao mesmo tempo ser um dispositivo para a memória. Como possibilidade de aprendizagem, a memória organizada por fotos pode ser uma porta para infinitas possibilidades de registro de memória, identidade e história. 


       “Resgatar a memória e recontar a história é resignificar o olhar.”
                                                                                        (Sônia Kramer)


domingo, 4 de dezembro de 2016

Sustentabilidade Real

                      

         A palavra sustentável vem do latim e significa sustentar, apoiar, conservar. O conceito de sustentabilidade é algo mais abrangente.  Está relacionado com atitude, mentalidade e ecologia. É interessante perceber que quando falamos em natureza, muitas vezes pensamos na floresta lá longe. Nossas propostas de conviver bem com a natureza se voltam então para o distante. Proteger a floresta, lá na Amazônia; salvar as baleias lá no oceano; evitar a extinção do urso panda e do mico leão dourado... Tudo é lá e nunca aqui. Não que tudo isso, não seja de suma importância para o planeta, mas separando nossa existência real, da “longínqua natureza” e seus problemas, criamos um muro entre nós e essa natureza. É algo como: “Mim Tarzan , you Jane.” Como se a natureza fosse um reino tão ...Tão... Tão distante... 
            Fazendo isso, ignoramos o fato de que a natureza está aqui e agora, não lá e depois, de que a natureza somos nós, tudo e todos que nos cercam.Pensar em sustentabilidade separando o homem da natureza é inviável. Nós sabemos que tornar o mundo ecologicamente sustentável significa apostar no desenvolvimento que não desrespeite o planeta no presente e satisfaça as necessidades humanas sem comprometer o futuro da terra e das próximas gerações. No entanto, esquecemos que a sustentabilidade não é possível sem o homem. A existência humana não se faz isolada. É singular e plural. Somos partes de um todo. Somos produto de diversas culturas e talvez esteja nessa diversidade o caminho para um mundo sustentável.
          Conhecer a natureza e o mundo que nos cerca, conhecer a si mesmo, nossa diversidade cultural, nossa história, nossa geografia, nosso desenvolvimento, nossas diferentes formas de conviver e interagir com a natureza e aprender com que já foi e é, antes de buscarmos respostas para o que poderá ser talvez seja o caminho. As respostas para um mundo sustentável podem estar mais próximas e podem ser mais simples do que imaginamos.

“O que é o homem na natureza? Um nada em relação ao infinito, um tudo em relação ao nada, um ponto a meio entre nada e tudo.” (Blaise Pascal)