domingo, 26 de junho de 2016

E Se O Mundo Fosse Surdo

                    

                Impossível assistir ao filme “E se o mundo fosse surdo” e não se imaginar vivendo a situação da personagem central, que não sendo surda não consegue se comunicar num mundo de surdos.  Ao imaginar esta possibilidade  também é impossível não se colocar na pele do surdo, que vive numa  sociedade onde a maioria das pessoas ouve e fala. Se o mundo não falasse uma língua igual a minha? Eu provavelmente, não conseguiria entender, nem me fazer entender. Isto porque estamos de tal forma, enraizados em nossa oralidade que não nos permitimos tentar nos comunicar de outras formas, exatamente como acontece com a personagem do filme.
               Um bom exemplo disto, foi a experiência que vivi e pude observar, durante os jogos da Copa do Mundo, que foram realizados em Porto Alegre, em 2014. Sou moradora da Cidade Baixa, onde grande parte dos torcedores alemães, espanhóis, argentinos, australianos, holandeses e gentes de todas as partes do mundo se reuniram para festejar o evento. Impossível entender o que todos diziam. O que se viu foi uma mistura de línguas de todo planeta, que muitas vezes não eram suficientes para que os torcedores compreendessem e fossem compreendidos, mas quando não havia possibilidade de comunicação oral, notei um fator infalível: o gestual.  Sinais e símbolos comuns no mundo inteiro como: fome, sede, beijo, longe, perto, dança, vitória, raiva, alegria, carona, oi, tchau, legal e outros, estavam presentes nessa verdadeira Torre de Babel que se transformou a Cidade Baixa naqueles dias.  
           Se eu me sentiria excluída se não tivesse acessibilidade? Sim. Imagino meu fillho, sem poder entender a aula na escola, sem poder fazer uma prova de ENEM ou de vestibular. Imagino estar numa aula, eu mesma, sem entender o que se diz. Sem poder comprar comida ou chegar no trabalho. Sem poder viajar. Sem conseguir pagar ou receber. Sem poder pedir um café... Imagino  um mundo de silêncio e a falta de comunicação e entendimento entre mim e este mundo.  Eu me sentiria como o personagem de Alexandre Dumas: “O Homem da Máscara de Ferro”, um  solitário, sem poder dizer o que penso  e sinto.  Seria como estar numa ilha, “a milhas e milhas”, distante de qualquer lugar. Seria como estar sem pertencer.

sexta-feira, 17 de junho de 2016

Brincar de Música

                                                        

A partitura é para a música o que o livro é para a literatura. Mas quando se fala em música na escola o mais importante não é o conhecimento das notas musicais e dos conceitos de música. O mais importante é despertar o aluno para a musicalidade. E como começa este despertar? É através do lúdico e da brincadeira que a criança aprende a gostar de música. O professor pode utilizar jogos da criação musical usando a voz, o gesto corporal, no movimento e na criação, como meios de expressão. De nada adianta o conhecimento musical teórico, se o professor não tem gosto pelo seu trabalho e não tem como objetivo despertar a música que vive dentro de cada aluno.
Utilizar a escrita para desenhar o som pode ser uma forma criativa de brincar e descobrir a musicalidade na escola. Segundo Stoïanowa (1973), o grafismo exterioriza o movimento do pensamento em figura gestual perceptível pelo olho; é  como uma escrita gestual. Uma vez transportado para o papel, um gesto feito  no ar se transforma em grafismo. A partir do instante em que o aluno sente necessidade de fixar graficamente suas ideias e sons musicais ou sons diferentes, ele pode inventar seus próprios códigos. O professor pode criar jogos gráficos de sons e diferentes brincadeiras sonoras. Os participantes da brincadeira, com suas características pessoais, modificam os jogos e o modo de jogar. 
Objetivos do professor que brinca de música com seus alunos:
-Despertar no aluno habilidades e o gosto pela música é mais importante que ensinar uma técnica;
-Sensibilizar para a música precede o ensino de conceitos;
-O fazer musical traz resultados para o conhecimento teórico dos conceitos;
-Criar é mais importante que imitar; Na prática da criação não há certo ou errado;
-A pesquisa e a descoberta de materiais sonoros são fundamentais;
- Sentir e expressar a musicalidade é essencial para o aluno.

http://pt.slideshare.net/soraiars/revista-meb-2

segunda-feira, 13 de junho de 2016

Mapas Conceituais

                                                                
A interdisciplina de Seminário Integrador sempre me surpreende. Há sempre uma novidade, uma provocação, um desafio que nos leva à pesquisa e à aprendizagem de um jeito diferente. Fazendo-nos desconstruir para construir. Foi assim que aprendi o que é cmap. ihmc.us, um software que capacita os usuários a construir, navegar, compartilhar e criticar modelos de conhecimentos apresentados como mapas conceituais. Mas o que são mapas conceituais e para que servem?
Mapas conceituais são estruturas esquemáticas que mostram uma rede de ideias e conceitos que têm como objetivo organizar o conhecimento. São representações gráficas que indicam relações entre palavras e conceitos, dos mais abrangentes até os menos inclusivos. São usados para facilitar, ordenar e dar uma sequencia para os conteúdos abordados. Esta organização tem como objetivo estimular a aprendizagem.A ideia é baseada na teoria da aprendizagem significativa de David Ausubel:
 ” A aprendizagem pode ser dita significativa quando uma nova informação adquire significado para o aprendiz através de uma espécie de ‘ancoragem’ em aspectos relevantes da estrutura cognitiva preexistente do indivíduo. Na aprendizagem significativa, há uma interação entre o novo conhecimento e o já existente, na qual ambos se modificam. À medida que o conhecimento prévio serve de base para a atribuição de significados à nova informação, ele também se modifica. A estrutura cognitiva está constantemente se reestruturando durante a aprendizagem significativa. O processo é dinâmico; o conhecimento vai sendo construído”.
Foi a partir do mapa conceitual que organizamos as intenções e os objetivos da nossa pesquisa sobre a domesticação dos animais. Aos organizarmos nossas descobertas desta forma, descobrimos um mundo de possibilidades para aprofundar nossas investigações e até mesmo para modificá-las. Fomos com nossos mapas construindo nosso conhecimento sobre o assunto. Nossos mapas conceituais foram costruídos, na medida em que o processo de aprendizagem acontecia. Olhando os mapas podemos perceber o avanço na construção do nosso conhecimento.

domingo, 5 de junho de 2016

Deixa a poesia entrar

                          
                                                   Poesia é plantar flores no sapato

A poesia é mais que um estilo literário. É algo particular e está em tudo aquilo que nos toca o espírito provocando emoção e prazer estético. Está em tudo que nos cerca: Nas flores, nas ondas e no barulho do mar, nas nuvens do céu, num beijo apaixonado, numa cena que nos comove e no sorriso de uma criança. Ela está no mundo à espera de um olhar sensível que a descubra. A poesia na escola é fundamental para enriquecer o universo do aluno. Universo humano intelectual, social, político, musical, oral, histórico, cultural e sim... Também o universo literário de possibilidades que por sua vez é uma porta para tudo o que se aprende não apenas na escola, mas na vida.

"Poesia é a descoberta das coisas que eu nunca vi." Oswald de Andrade
             
O professor pode ser um mediador na prática da leitura da poesia. Aproximando do aluno a leitura e a apreciação da poesia. A poesia desenvolve a sensibilidade, a criatividade, enriquece o vocabulário, desperta para a escrita, possibilita a interação e o envolvimento da turma e desperta para pensamento crítico e reflexivo. Cada professor pode encontrar seu próprio caminho para trabalhar a poesia com seus alunos. O importante é fazer a criança mergulhar na poesia, despertar sua imaginação, despertar o sonho e sentimentos que podem nascer ou nunca emergir do labirinto interno infantil.
O professor pode usar desenhos e pinturas, pode fazer e provocar perguntas, criar frases que peçam rimas. A criança se diverte com a poesia. Está aí o primeiro passo para começar a gostar de poesia: Aprender brincando. Talvez exatamente por isso a poesia infantil no Brasil tenha dado seu grande passo nos anos 60. Quando a poesia passou a usar uma roupa infantil, com o humor, o lúdico sonoro, o sentimento e a sensibilidade infantil. A aliteração e a assonância da poesia desperta o interesse e a curiosidade da criança. Ela gosta da repetição das palavras, acha engraçado, pede para repetir porque quer ouvir e rir de novo. Pode-se usar parlendas e travalínguas sem medo de errar. A música é outro parceiro da poesia. A sonoridade das palavras  combinada com a musicalidade, torna o gostar de poesia ainda mais natural. Esta janela para alma do aluno está diante de nós. Professor: Deixa a poesia entrar.

http://revistaescola.abril.com.br/educacao-infantil/4-a-6-anos/linguagem-oral-poesias-oralidade-poemas-567791.shtml

Quando eu era criança, meu pai me levava para passear na Praça da Alfândega, no centro de Porto Alegre, onde morávamos. Em nossas andanças, com frequência encontrávamos o poeta Mário Quintana, sentado nos bancos da praça. Meu pai dizia: "Vê aquele senhor sentado ali no banco? É o poeta Mário Quintana." Eu olhava para o poeta e ele me sorria. Quando nos afastávamos, meu pai dizia:" Que lindo minha filha! O poeta Mário Quintana sorriu pra ti. Isso também é poesia." Como não amar o poeta que me sorria quando criança? Ganhei na feira do livro de Porto Alegre um livro sobre Mário que adoro: Um Passarinho Chamado Mário, de Léia Cassol e Bria Brigidi. O livro tem ilustrações incríveis de Giana  Lorenzini. As crianças morrem de rir ao saber que ele enfeitou um sapato com flores para dar de presente para a namorada ( imagine plantar flores nos sapatos com a turma), que o poeta adorava tomar cafezinho com quindim (costumo fazer xícaras de café e quindins com massinha de modelar, criar maquetes da Casa de Cultura Mário Quintana com caixas de leite e garrafa pet, fazer o boneco do poeta com meias calças e os alunos , vesti-lo  e o colocá-lo sentado, olhando os passarinhos no banco da escola. Ver as crianças olhando para o poeta e o poeta sorrindo para elas. Isso também é poesia.

 

"Todos estes que aí estão. Atravancando meu caminho. Eles passarão... Eu passarinho!" ( Mário Quintana em Poeminha do Contra)