Impossível assistir ao filme “E se o mundo fosse surdo” e não se
imaginar vivendo a situação da personagem central, que não sendo surda não
consegue se comunicar num mundo de surdos.
Ao imaginar esta possibilidade
também é impossível não se colocar na pele do surdo, que vive numa sociedade onde a maioria das pessoas ouve e
fala. Se o mundo não falasse uma língua igual a minha? Eu provavelmente, não
conseguiria entender, nem me fazer entender. Isto porque estamos de tal forma,
enraizados em nossa oralidade que não nos permitimos tentar nos comunicar de
outras formas, exatamente como acontece com a personagem do filme.
Um bom exemplo disto, foi a experiência que vivi e pude observar, durante os jogos da Copa do Mundo, que foram
realizados em Porto Alegre, em 2014. Sou moradora da Cidade Baixa, onde grande
parte dos torcedores alemães, espanhóis, argentinos, australianos, holandeses e
gentes de todas as partes do mundo se reuniram para festejar o evento.
Impossível entender o que todos diziam. O que se viu foi uma mistura de línguas
de todo planeta, que muitas vezes não eram suficientes para que os torcedores
compreendessem e fossem compreendidos, mas quando não havia possibilidade de
comunicação oral, notei um fator infalível: o gestual. Sinais e símbolos comuns no mundo inteiro
como: fome, sede, beijo, longe, perto, dança, vitória, raiva, alegria, carona,
oi, tchau, legal e outros, estavam presentes nessa verdadeira Torre de Babel
que se transformou a Cidade Baixa naqueles dias.
Se eu me sentiria excluída se não tivesse acessibilidade? Sim. Imagino
meu fillho, sem poder entender a aula na escola, sem poder fazer uma prova de
ENEM ou de vestibular. Imagino estar numa aula, eu mesma, sem entender o que se
diz. Sem poder comprar comida ou chegar no trabalho. Sem poder viajar. Sem
conseguir pagar ou receber. Sem poder pedir um café... Imagino um mundo de silêncio e a falta de comunicação
e entendimento entre mim e este mundo.
Eu me sentiria como o personagem de Alexandre Dumas: “O Homem da Máscara
de Ferro”, um solitário, sem poder dizer
o que penso e sinto. Seria como estar numa ilha, “a milhas e
milhas”, distante de qualquer lugar. Seria como estar sem pertencer.
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