domingo, 30 de junho de 2019

Escrever e Projetar

Terminei meu estágio em Pedagogia. Consegui escrever o projeto e também consegui executar o que foi proposto na minha intenção inicial de trabalhar com as crianças utilizando a arte como mola mestra de engrenagem do projeto.
Nessa caminhada, talvez o mais difícil, tenha sido o exercício da escrita. Escrever não é fácil. A escrita pode expor limitações de análise, de pesquisa, de conceitos e de reflexão, mas ao mesmo tempo, essas limitações podem apontar caminhos, busca, respostas e sobretudo qualificação da mesma escrita.
A escrita mostra o quanto evoluímos em nossas aprendizagens e o longo caminho que ainda temos de percorrer para melhorar e qualificar o que escrevemos, como já havia dito na postagem “A escrita como fruto de exercício”, de 2017.
Quando estava costurando a escrita do projeto, encontrei na poesia de Haroldo de Campos, inspiração para escrever e projetar: (...)E aqui “começo pelo começo”, como na poesia de Haroldo de Campos, no livro Galáxias: (...) e começo aqui e meço aqui este começo e recomeço e remeço e arremesso aqui me meço quando se vive sob a espécie de viagem o que importa não é a viagem mas o começo da (Haroldo de Campos / Galáxias, 1984).


Reflexão Percepção e Possibilidades


Em abril de 2017, escrevi neste blog a postagem "Ser e fazer reflexivo", sobre a importância de sermos professores reflexivos. Nossa prática permite e requer reflexão. É através da reflexão continua sobre nossa prática como professores que podemos planejar e rever ou seguir com nossas ações. Essa reflexão constante sobre nossas ações, nos torna professores sujeitos, capazes de estimular alunos sujeitos também. A reflexão sobre aquilo que fazemos abre portas para novos conhecimentos e possibilidades e diminui a distância entre teoria e prática.

Nestas 180 horas de estágio a reflexão se fez mais necessária do que nunca. Reflexão diária e semanal. Reflexão daquilo que planejei fazer e daquilo que fiz de fato com as crianças durante o projeto. O que escrevi na postagem anterior continua sendo alicerce para o que fiz durante o estágio e para o que faço todos os dias na escola:

Ao refletirmos sobre o que fazemos na escola aprendemos a reconstruir, redirecionar e principalmente criar algo novo, encontrar novos caminhos para uma prática pedagógica que liberte o pensar, o agir e o sentir, nosso e do aluno. Refletir sobre o fazer pedagógico nos torna capazes de modificar este fazer pedagógico. Traz à tona diferentes possibilidades, nos ensina a perceber.


"O pensamento reflexivo é uma capacidade, como tal não desabrocha espontaneamente, mas pode se desenvolver-se. Para isso tem de ser cultivado e requer condições favoráveis para o seu desabrochar," (ALARCÃO, 1996, p. 9)

Referências:
ALARCÃO. Isabel. Professores reflexivos em uma escola reflexiva. Ed. Cortez, 2003.

Estágio e Fotografia


Em 2016, publiquei a postagem "Fotografia e Memória Docente", falando sobre como a memória organizada por fotos pode ser uma porta para infinitas possibilidades de registro de memória, identidade e história. Memória é a capacidade de guardar nossas lembranças e experiências vividas em nossas mentes.  A fotografia é um armazenador da memória, ela preserva o passado (tempo), congela e revela lembranças.
Fotografar é perpetuar a memória e no meu estágio a fotografia tem sido indispensável não apenas para registro do que proponho no projeto em ação, mas também como forma de avaliar o que as crianças pensam e como reagem ao proposto. Somada ao registro das falas e a alguns vídeos, a fotografia tem sido também uma excelente motivação e inspiração para a escrita.
Proust considerava a memória mais importante que a vida: “Pois um acontecimento vivido é finito, ou pelo menos encerrado na espera do vivido, ao passo que o acontecimento lembrado é sem limites, porque é uma chave para tudo que veio antes e depois.” (BENJAMIN 1986, p. 37)


                                                                               
Diálogo do Barquinho:

"Olha eu fiz um barco a vela. É a vela que faz ele andar na água. A vela e  o vento. Tu achou bonito Kátia?" "Eu nunca em toda a minha vida vi um barco tão lindo."

A pergunta e o conhecimento


                                   
Uma lona branca e sobre ela uma mandala feita com dinossauros, areia colorida e pedras. O que acontece quando misturamos um assunto de profundo interesse das crianças com uma proposta diferente de brincar? O resultando com crianças pequenas é sempre surpreendente. O brincar é revelador em suas nuances e possibilidades. Não se trata apenas daquilo que sabemos, mas daquilo que as crianças já sabem, do que lhes interessa, da forma como encontram soluções e buscam respostas, da forma como são capazes de criar e recriar.
   
                                                                   
Quem trabalha com crianças pequenas sabe do fascínio que quase todas elas sentem pelos dinossauros. Elas gostam de imaginar como era um mundo que não existe e que ao mesmo tempo sabem que já existiu. São atraídas por um mundo que podem recriar e criar e por essa criaturas pré-históricas que lhes provocam curiosidade, medo e admiração, por seus nomes científicos, tamanho, forma e pelo tipo de alimentação.  O interesse pelos dinossauros é considerado um fenômeno que na Psicologia é definido como "interesses intensos": uma motivação muito forte por determinado assunto ou tópico.

                                                                 
Em dezembro de 2016, na postagem “Sobre perguntas e respostas", escrevi sobre a curiosidade das crianças e sobre a capacidade que elas têm de encontrar respostas, formular hipóteses e encontrar soluções. FREIRE nos diz que, “a pergunta é o ponto de partida para o conhecimento”. Por isso, perguntar, questionar e duvidar é tão importante. Perguntar abre uma ponte para o diálogo, para a discussão e para o entendimento. Perguntar provoca novas inquietudes, novos questionamentos. Gera conclusões, percepções, ideias, conhecimento:

                                     
                             

"Como é o nome desse dinossauro mesmo?" "É por causa dos chifres?" "Esse aí só comia folhas?" "Era um dinossauro vegetariano?"  O Rex só comia carne?" "O pescoçudo só comia folhas?" "Existia dinossauro que comia os dois? "É verdade que o dente do Rex era do tamanho de uma banana das grandes? "Tinha vulcão na era dos dinossauros?" "As mamães dinossauras cuidavam dos filhotes ou comiam eles?" "Existia criança na época dos dinossauros?" "Porque eles morreram?" "O jacaré é parente do dinossauro?"

Conforme Freire (2007, p. 86): Antes de qualquer tentativa de discussão de técnicas, de materiais, de métodos para uma aula dinâmica assim, é preciso, indispensável mesmo, que o professor se ache “repousado” no saber de que a pedra fundamental é a curiosidade do ser humano. É ela que me faz perguntar, conhecer, atuar, mais perguntar, re-conhecer.