sábado, 22 de outubro de 2016

O Tempo no Espaço Escolar

          O texto “Questões sobre o tempo no espaço escolar”, nos faz pensar sobre o tempo dentro do cotidiano escolar, sobre como ele acontece, sobre como foi e é estruturado este tempo, por quem e para quem ele se estrutura, sobre nossos próprios objetivos e prioridades como educadores em relação a este tempo, sobre o que o aluno precisa e quer neste tempo em que está na escola. Esse tempo é criado para se enquadrar nas necessidades da educação ou a educação na Modernidade é escrava deste tempo criado por ela mesma? Quem vive dentro da rotina escolar sabe o que significa o tempo e a pressão que ele nos impõe. Essa relação do tempo com a educação é tão interessante quanto contraditória.
     Para o professor esse tempo tem que enquadrar planejamento, comemorações, reuniões, avaliações, provas e, sobretudo os conteúdos... Para o aluno, esse tempo muitas vezes se divide entre a obrigação de estar na sala de aula aprendendo o conteúdo e o tempo do recreio, onde ele supostamente se sente livre. Na defesa deste “tempo escolar” e seus períodos, dizemos que ele é necessário para que se cumpra o cronograma e para que os conteúdos sejam ministrados. Na prática, o que acontece é que o tempo apressa, faz pular e deixa incompleto o conteúdo das aprendizagens. Esse tempo seria mal administrado e mal definido por quem afinal? Privilegiamos o conteúdo dentro do tempo e ao fazermos isso, o tempo se torna, ele também, o condutor do conteúdo. Se a questão do tempo e o conteúdo na escola já é uma contradição o que dizer da relação do tempo no espaço escolar com a infância?
       Ao longo da história, a infância foi se definindo e redefinindo com teorias e normas de aprendizagem estabelecidas para cada etapa do desenvolvimento. Devidamente classificadas as crianças, fazer uma tabela de tempo que se adapte ao aluno, parece seguir uma sequência mais do que natural. Parece mas não é... Tomemos como exemplo o tempo dentro da educação infantil. Ao mesmo tempo em que a escola entende a importância do brincar e esse brincar é a base da aprendizagem para essa faixa etária, a dura rotina vivida dentro deste mesmo espaço pela criança se contradiz a essa base: São horários rígidos de refeições, hora do sono, hora do pátio, hora de fazer a atividades, hora de trocas de fraldas, hora do brincar dirigido, hora do livre brincar.  Muitas vezes, a escola infantil assemelha-se mais a um quartel.
          Estaríamos nós confinados ao tempo e ao espaço escolar como dentro de uma armadilha criada pela própria educação? Se pensarmos em nós educadores, nos alunos e na comunidade escolar como sujeitos dentro de um projeto pedagógico escolar que elaborado por nós deve ou deveria ter respeitados os objetivos traçados de forma democrática e dialógica, esse tempo pode ser reconstruído e reformulado de acordo com nossos reais interesses. Que escola é essa que vivemos? Essa é a escola que queremos? Essa é a escola que pensamos? Seremos nós apenas viajantes do tempo nesse cotidiano escolar ou construtores da educação que queremos dentro de nossas práticas educativas?
            Para que o tempo do professor hoje, dentro da sala de aula, deixe de ser um tempo de obrigações, destinado apenas a cumprir obrigações e a carga horária, precisamos fazer a seguinte  reflexão: “Quem faz a escola e pra quem é feita a escola?” O texto nos acorda  para o desafio de fazer a escola num outro tempo e para a necessidade de sairmos desse tempo de confinamento que vivemos em nossas escolas para o tempo de criação, nos apropriando dos espaços e expandindo estes espaços, tornando-os mais flexíveis, interativos e ilimitados. Uma organização de tempo e espaço menos homogeneizada, que considere e respeite as diferenças, os conteúdos e os saberes de todos que vivenciam a educação. Uma escola em que o tempo se torne um aliado e não um inimigo do professor e do aluno, onde o próprio tempo deixe de ser um prisioneiro da sala de aula, onde a alegria da aprendizagem não seja sufocada pela obrigação:

“O tempo que levamos dizendo que para haver alegria na escola é preciso primeiro mudar radicalmente o mundo é o tempo que perdemos para começar a inventar e viver a alegria.” (Paulo Freire, 1993, p.10)

Referência:


Nenhum comentário:

Postar um comentário