O
texto “Questões sobre o tempo no espaço escolar”, nos faz pensar sobre o tempo
dentro do cotidiano escolar, sobre como ele acontece, sobre como foi e é
estruturado este tempo, por quem e para quem ele se estrutura, sobre nossos
próprios objetivos e prioridades como educadores em relação a este tempo, sobre
o que o aluno precisa e quer neste tempo em que está na escola. Esse tempo é
criado para se enquadrar nas necessidades da educação ou a educação na
Modernidade é escrava deste tempo criado por ela mesma? Quem vive dentro da
rotina escolar sabe o que significa o tempo e a pressão que ele nos impõe. Essa
relação do tempo com a educação é tão interessante quanto contraditória.
Para o professor esse
tempo tem que enquadrar planejamento, comemorações, reuniões, avaliações,
provas e, sobretudo os conteúdos... Para o aluno, esse tempo muitas vezes se
divide entre a obrigação de estar na sala de aula aprendendo o conteúdo e o
tempo do recreio, onde ele supostamente se sente livre. Na defesa deste “tempo
escolar” e seus períodos, dizemos que ele é necessário para que se cumpra o
cronograma e para que os conteúdos sejam ministrados. Na prática, o que
acontece é que o tempo apressa, faz pular e deixa incompleto o conteúdo das
aprendizagens. Esse tempo seria mal administrado e mal definido por quem
afinal? Privilegiamos o conteúdo dentro do tempo e ao fazermos isso, o tempo se
torna, ele também, o condutor do conteúdo. Se a questão do tempo e o conteúdo
na escola já é uma contradição o que dizer da relação do tempo no espaço
escolar com a infância?
Ao longo da história, a
infância foi se definindo e redefinindo com teorias e normas de aprendizagem
estabelecidas para cada etapa do desenvolvimento. Devidamente classificadas as
crianças, fazer uma tabela de tempo que se adapte ao aluno, parece seguir uma sequência mais do que
natural. Parece mas não é... Tomemos como exemplo o tempo dentro da educação
infantil. Ao mesmo tempo em que a escola entende a importância do brincar e
esse brincar é a base da aprendizagem para essa faixa etária, a dura rotina
vivida dentro deste mesmo espaço pela criança se contradiz a essa base: São
horários rígidos de refeições, hora do sono, hora do pátio, hora de fazer a atividades,
hora de trocas de fraldas, hora do brincar dirigido, hora do livre
brincar. Muitas vezes, a escola infantil
assemelha-se mais a um quartel.
Estaríamos nós confinados
ao tempo e ao espaço escolar como dentro de uma armadilha criada pela própria
educação? Se pensarmos em nós educadores, nos alunos e na comunidade escolar
como sujeitos dentro de um projeto pedagógico escolar que elaborado por nós
deve ou deveria ter respeitados os objetivos traçados de forma democrática e
dialógica, esse tempo pode ser reconstruído e reformulado de acordo com nossos
reais interesses. Que escola é essa que vivemos? Essa é a escola que queremos?
Essa é a escola que pensamos? Seremos nós apenas viajantes do tempo nesse
cotidiano escolar ou construtores da educação que queremos dentro de nossas
práticas educativas?
Para que o tempo do
professor hoje, dentro da sala de aula, deixe de ser um tempo de obrigações,
destinado apenas a cumprir obrigações e a carga horária, precisamos fazer a
seguinte reflexão: “Quem faz a escola e
pra quem é feita a escola?” O texto nos acorda
para o desafio de fazer a escola num outro tempo e para a necessidade de
sairmos desse tempo de confinamento que vivemos em nossas escolas para o tempo
de criação, nos apropriando dos espaços e expandindo estes espaços, tornando-os
mais flexíveis, interativos e ilimitados. Uma organização de tempo e espaço
menos homogeneizada, que considere e respeite as diferenças, os conteúdos e os
saberes de todos que vivenciam a educação. Uma escola em que o tempo se torne
um aliado e não um inimigo do professor e do aluno, onde o próprio tempo deixe
de ser um prisioneiro da sala de aula, onde a alegria da aprendizagem não seja
sufocada pela obrigação:
“O
tempo que levamos dizendo que para haver alegria na escola é preciso primeiro
mudar radicalmente o mundo é o tempo que perdemos para começar a inventar e
viver a alegria.” (Paulo Freire, 1993, p.10)
Referência:
http://www.ufjf.br/espacoeducacao/files/2009/11/cc07_1.pdf-acessado em 22/10/2016.
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