"Jamais pude dissociar o biológico e o social, não porque os
creia redutíveis entre si, mas porque eles me parecem tão complementares, desde
o nascimento, que a vida psíquica só pode ser encarada, tendo em vista suas
relações recíprocas."(Wallon, 1951)
Henry
Wallon coloca a afetividade como um dos aspectos centrais do desenvolvimento
humano. A vida psíquica para Wallon é formada por três dimensões que estão
integradas: motora, afetiva e cognitiva. Elas coexistem, interagem entre si e
são dependentes uma da outra. A teoria de Wallon nos diz, que a criança nasce
biologicamente preparada para se desenvolver cognitivamente e motoramente, mas
é o meio que vai permitir que essas potencialidades se desenvolvam ou não. Esta
é a essência da concepção dialética do desenvolvimento infantil.
Esse
desenvolvimento não acontece de forma linear, porque a criança entra em
conflito com os meios, com os sujeitos e consigo mesma. Portanto, o conflito, a
emoção, o sentimento e a paixão fazem parte do desenvolvimento. A afetividade
seria a primeira forma de interação com o meio ambiente, a motivação para o
movimento. As emoções são a base para o desenvolvimento da inteligência. O
movimento é fator importante para estruturar pensamento e linguagem. O
movimento é expressão e a criança fala por ele. O movimento vai do sincretismo
para a diferencialização. No início, as emoções são desordenadas e confusas,
depois vão ganhando sentido próprio.
A
criança, desde o nascimento é afetada por elementos externos: o olhar do outro,
um objeto que lhe chama atenção, uma palavra, frase ou comentário que escuta,
quanto por fatores internos; medo, alegria, fome, satisfação e responde a esses
fatores. O conceito de afetividade não significa amor e carinho. Diz respeito à
forma como o ser humano reage aos estímulos do meio: positiva ou negativamente.
Mesmo antes de falar, a criança se comunica, se expressa e se constitui como
sujeito. Aprendendo a imitar a criança vai construindo sua subjetividade.
Assim
como Piaget, Wallon também divide o desenvolvimento em etapas, que para ele são
cinco: impulsivo–emocional, sensório motor e projetivo, personalismo,
categorial e puberdade e adolescência. Não há etapas rígidas e verdades
absolutas na teoria de Wallon, no processo de aprendizagem dialético há possibilidades.
O desenvolvimento dialético para Wallon jamais se encerra. É algo permanente na
vida humana. Wallon não prioriza a inteligência e o desempenho na sala de aula,
mas um desenvolvimento intelectual dentro de uma cultura humanizada,
considerando o aluno como um todo.
Essa
visão totalizadora possibilita a visão e a compreensão do aluno em todas as
suas capacidades, abre caminhos para a construção do conhecimento também como
um todo e para o diálogo da interdisciplinaridade no currículo, reformula a
ideia de ensino dependente e à serviço do neoliberalismo e às condições de
mercado, tornando a educação um ato político. Ao valorizar a afetividade Wallon
valoriza a importância da relação professor aluno e a construção dessa relação.
Afetividade,
emoções, movimento e espaço físico podem e devem se encontrar e coexistir na
sala de aula e na escola. As atividades pedagógicas, os objetos, o ambiente
convidativo e estimulador e a ação do professor são fundamentais para que a
criança se desenvolva como um todo. Tudo que a escola é e faz pode afetar o
desenvolvimento da criança, inibindo ou estimulando suas capacidades de
desenvolvimento e aprendizagem.
No
livro “Do Ato ao Pensamento”, Wallon nos acorda para a importância da
afetividade em tudo que diz respeito à construção do sujeito e à construção do
conhecimento, para o espaço, não apenas como ambiente físico, mas ambiente
social cultural, comportamental e emocional : “O espaço não é primitivamente
uma ordem entre as coisas, é antes uma qualidade das coisas em relação à nós
próprios, e nessa relação é grande o papel da afetividade, da pertença, do
aproximar ou do evitar, da proximidade ou do afastamento.” (WALLON, 1942)
REFERÊNCIAS:
DOMICIANO, Débora. Henri Wallon. You tube, abril, 2011. Encontrado em: https://www.youtube.com/watch?feature=youtu.be&v=8BN9RtRMdXE-
acesso em: 10/06/2018.
FERREIRA, Aurino Lima. ACIOLY- REGNIER, Nadja Maria. Contribuições de Henry Wallon à relação cognição e afetividade na
educação. Revista Educar n. 36, p. 21 a 38. Curitiba: 2010. Editora UFPR.
WALLON, H. Do ato ao pensamento: ensaio de psicologia comparada. Petrópolis:
Vozes, 2008.
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