domingo, 1 de julho de 2018

A afetividade que constrói o humano


"Jamais pude dissociar o biológico e o social, não porque os creia redutíveis entre si, mas porque eles me parecem tão complementares, desde o nascimento, que a vida psíquica só pode ser encarada, tendo em vista suas relações recíprocas."(Wallon, 1951)

Henry Wallon coloca a afetividade como um dos aspectos centrais do desenvolvimento humano. A vida psíquica para Wallon é formada por três dimensões que estão integradas: motora, afetiva e cognitiva. Elas coexistem, interagem entre si e são dependentes uma da outra. A teoria de Wallon nos diz, que a criança nasce biologicamente preparada para se desenvolver cognitivamente e motoramente, mas é o meio que vai permitir que essas potencialidades se desenvolvam ou não. Esta é a essência da concepção dialética do desenvolvimento infantil.
Esse desenvolvimento não acontece de forma linear, porque a criança entra em conflito com os meios, com os sujeitos e consigo mesma. Portanto, o conflito, a emoção, o sentimento e a paixão fazem parte do desenvolvimento. A afetividade seria a primeira forma de interação com o meio ambiente, a motivação para o movimento. As emoções são a base para o desenvolvimento da inteligência. O movimento é fator importante para estruturar pensamento e linguagem. O movimento é expressão e a criança fala por ele. O movimento vai do sincretismo para a diferencialização. No início, as emoções são desordenadas e confusas, depois vão ganhando sentido próprio.
A criança, desde o nascimento é afetada por elementos externos: o olhar do outro, um objeto que lhe chama atenção, uma palavra, frase ou comentário que escuta, quanto por fatores internos; medo, alegria, fome, satisfação e responde a esses fatores. O conceito de afetividade não significa amor e carinho. Diz respeito à forma como o ser humano reage aos estímulos do meio: positiva ou negativamente. Mesmo antes de falar, a criança se comunica, se expressa e se constitui como sujeito. Aprendendo a imitar a criança vai construindo sua subjetividade.
Assim como Piaget, Wallon também divide o desenvolvimento em etapas, que para ele são cinco: impulsivo–emocional, sensório motor e projetivo, personalismo, categorial e puberdade e adolescência. Não há etapas rígidas e verdades absolutas na teoria de Wallon, no processo de aprendizagem dialético há possibilidades. O desenvolvimento dialético para Wallon jamais se encerra. É algo permanente na vida humana. Wallon não prioriza a inteligência e o desempenho na sala de aula, mas um desenvolvimento intelectual dentro de uma cultura humanizada, considerando o aluno como um todo.
Essa visão totalizadora possibilita a visão e a compreensão do aluno em todas as suas capacidades, abre caminhos para a construção do conhecimento também como um todo e para o diálogo da interdisciplinaridade no currículo, reformula a ideia de ensino dependente e à serviço do neoliberalismo e às condições de mercado, tornando a educação um ato político. Ao valorizar a afetividade Wallon valoriza a importância da relação professor aluno e a construção dessa relação.
Afetividade, emoções, movimento e espaço físico podem e devem se encontrar e coexistir na sala de aula e na escola. As atividades pedagógicas, os objetos, o ambiente convidativo e estimulador e a ação do professor são fundamentais para que a criança se desenvolva como um todo. Tudo que a escola é e faz pode afetar o desenvolvimento da criança, inibindo ou estimulando suas capacidades de desenvolvimento e aprendizagem.
No livro “Do Ato ao Pensamento”, Wallon nos acorda para a importância da afetividade em tudo que diz respeito à construção do sujeito e à construção do conhecimento, para o espaço, não apenas como ambiente físico, mas ambiente social cultural, comportamental e emocional : “O espaço não é primitivamente uma ordem entre as coisas, é antes uma qualidade das coisas em relação à nós próprios, e nessa relação é grande o papel da afetividade, da pertença, do aproximar ou do evitar, da proximidade ou do afastamento.” (WALLON, 1942)

REFERÊNCIAS:
DOMICIANO, Débora. Henri Wallon. You tube, abril, 2011. Encontrado em: https://www.youtube.com/watch?feature=youtu.be&v=8BN9RtRMdXE- acesso em: 10/06/2018.
FERREIRA, Aurino Lima. ACIOLY- REGNIER, Nadja Maria. Contribuições de Henry Wallon à relação cognição e afetividade na educação. Revista Educar n. 36, p. 21 a 38. Curitiba: 2010. Editora UFPR.
WALLON, H. Do ato ao pensamento: ensaio de psicologia comparada. Petrópolis: Vozes, 2008.


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