domingo, 8 de outubro de 2017

O Preconceito é Sólido

      "O lugar de vocês é no tronco. Negros fora! Fora Negrada!” 

                   Alemanha nazista na década de 30? Não! UFSM hoje!!!!
          
                  
             Quando se define Modernidade, a primeira palavra que nos vem à cabeça é razão. Ao entrar na Modernidade, o homem teria conceitualmente entrado na era da razão e saído da era da superstição, dos dogmas religiosos e da cegueira do conhecimento. Esse alicerce sólido na razão, nos daria e garantiria um mundo melhor, mas evoluído e mais lúcido. O homem teria assim, a garantia de uma sociedade melhor e mais justa. A modernidade foi e tem sido apontada como o lugar do novo, da tecnologia, um espaço de tempo para presente o futuro. Modernidade significa romper com o antigo e buscar o novo. A expectativa dessa Modernidade imaculada pela razão, naufragou e se desfez diante do homem e pela mão do homem que desencantado com a desigualdade social, as lutas de classes, o Holocausto e duas guerras mundiais deixou de apostar cegamente na razão humana e naquilo que considerava sólido e indestrutível. Tudo passa a ser questionável e passível de desconstrução em tempo considerado líquido, onde nada dura muito tempo, porque nada pode durar.
             No entanto, a história do homem é contínua, ainda que insistamos em dividi-la para compreender melhor os fatos. Sendo assim, vivemos num mundo considerado Pós-Moderno que é a Modernidade continuada, transformada em busca pelo novo mais uma vez. O Moderno e Pós-Moderno se misturam, se completam e se repelem também na educação. Essa educação, que hoje não pode mais ser vista e praticada de forma unificada e padronizada, mas de forma única e singular em sua pluralidade, diversidade e na identidade dos sujeitos que a constituem, onde o global e o individual não se separam, mas se completam, se procuram, se reinventam, se reconhecem e se descobrem. Sendo assim, a educação não pode mais ser só razão, mas deve ser antes de tudo, reflexão.
            Essa relação entre modernidade e educação é contraditória. Como educar para a reflexão, se as escolas continuam a educar para repetição do conteúdo e do pensamento único? Que educação é essa nossa em nosso tempo? Estamos caminhando na direção do novo, das novas formas de aprendizagem, do respeito ao sujeito, da diversidade, da singularidade e da igualdade das diferenças? Há poucos dias, um crime de racismo chocou a todos e em especial a nós, que trabalhamos com educação. Estudantes negros, do curso de Direito, da Universidade Federal de Santa Maria, foram vítimas de preconceito racial e foram violentados em seus direitos básicos, de ser, de existir e de estudar. Estamos falando de racismo, mas não de um racismo oculto e envergonhado, mas de um racismo orgulhoso, que se expõe, provoca, intimida, segrega o humano e dissemina a ideia de que existe uma supremacia branca. Os tempos são de Modernidade Pós-Moderna, mas a história se repete. O que aconteceu em Santa Maria é o mesmo que aconteceu na Alemanha Nazista quando milhões pereceram por serem judeus, ciganos, homossexuais ou diferentes de alguma forma, no Apartheid da África do Sul, na limpeza racial e religiosa da Guerra da Bósnia, na invasão chinesa do Tibet...
              Há algo errado na formação dos estudantes racistas da UFSM, estudantes de Direito, que deveriam defender o que é certo e direito. Não sei se a universidade está apenas buscando os culpados pelo crime cometido. Não é o bastante. É preciso conscientizar os estudantes de Direito e a comunidade universitária em geral. O racismo não cabe e não deveria caber, onde se ensina, aprende, vive e respira a diversidade. Estariam sobrando ferramentas tecnológicas globalizadas em nossa educação e faltando aulas de história e filosofia? Quanto vale a educação ou é por kilo? Que Vênus Negra é essa cor negra exposta? Que olhar é esse nosso, sobre essa educação do século XXI? Infelizmente, a Modernidade é líquida, mas o preconceito é sólido.
                                                         
                
                                                          
 Referências:
Texto: Um olhar sobre a educação moderna do Século XXI. Luciani Missio e Jorge Luiz da Cunha.
Filme: Vênus Negra. Abdellatif Kechiche.


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