quinta-feira, 12 de outubro de 2017

Sobre avestruzes, crocodilos e nós mesmos.

                       
                               Que crocodilos habitam o fosso do teu castelo?             
                                        
     Vivemos num mundo de diferenças e diferentes. Ninguém é igual a ninguém no planeta terra. Nem mesmo os gêmeos ou os animais clonados. Em outras palavras: Todo mundo é diferente. Se é assim, porque as diferenças do outro podem nos assustar tanto. O texto “Sobre crocodilos e avestruzes: falando de diferenças físicas, preconceitos e sua superação", de Lígia Assumpção Amaral nos fala sobre isso. As metáforas dos avestruzes e crocodilos utilizadas pela autora, nos levam a refletir sobre a complexidade da questão em nosso mundo. A escrita de Lígia nos acorda para a visão e o conceito que temos do diferente e nos faz perceber que o diferente não é aquilo que é, mas antes de tudo o que vemos e o que é vemos é limitado e limitante, se restringindo apenas à nossa observação rápida e centrada na diferença do indivíduo.
         Reflitamos sobre o que realmente é ser diferente? Porque diferente e deficiência são e tornaram-se sinônimos? Que preconceitos colaboram e atestam essa correlação? A autora conceitua como diferença significativa aquilo que entendemos como fora de padrões ideais de uma sociedade e de uma cultura. O texto criativo e ao mesmo tempo complexo, nos empurra o tempo todo para a reflexão sobre o amplo tratado da problemática do preconceito e do estigma do ser diferente num mundo conceituado e alicerçado na generalização. Pensar no outro pela diferença é limitar capacidades e aprisionar o diferente à uma única condição.  A incapacidade do outro torna-se o delimitador de suas capacidades. O preconceito contra o diferente habita em nós e se manifesta de diferentes formas e sentimentos.
     Generalizamos, odiamos, evitamos contato e contágio, nos compadecemos, correlatamos linearmente a dificuldade, compensando a diferença com a generalização de uma característica, qualificamos o indivíduo como incapaz, em eterna desvantagem, pré-conceituamos o sujeito pela sua característica e pela sua diferença. Como professores, nos tornamos repetidores da estigmatização do diferente e das diferenças. Quando nos compadecemos do diferente o restringindo ao merecimento da pena pelo que não pode realizar da forma como pretendemos, como se houvesse uma única forma de aprender. Quando negamos ao sujeito sua capacidade e seu direito de ser o que é e fazer o que pode fazer do seu jeito. Quando subestimamos a capacidade do aluno diferente e focamos no negativo, antevendo e limitando seu avanço. Quando evitamos confrontar falas e atitudes preconceituosas nos outros alunos e em nossos pares. Quando evitamos questionar e confrontar o preconceito que habita em nós mesmos. Quando deixamos a rápida visão cegar nosso olhar sobre o outro. Quando paramos de refletir.
        Não há uma solução pronta para acabar com todos estes preconceitos e ideias preestabelecidas do diferente, mas podemos contribuir para transformar essa visão das coisas que envolvem as diferenças com o nosso trabalho pedagógico, com o diálogo envolvendo a participação de toda a comunidade escolar, educando nosso olhar para ver além da diferença e refletindo continuamente na busca de soluções. Talvez assim, possamos acordar do pesadelo de nossos preconceitos e todas as espécies de conceitos, sentimentos e sentidos possam coexistir de outra forma: avestruzes, crocodilos e homens.   

REFERÊNCIAS:
AMARAL, Lígia Assumpção. Sobre crocodilos e avestruzes: falando de diferenças físicas, preconceitos e sua superação, de Lígia Assumpção Amaral

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