Vivemos
num mundo de diferenças e diferentes. Ninguém é igual a ninguém no planeta
terra. Nem mesmo os gêmeos ou os animais clonados. Em outras palavras: Todo
mundo é diferente. Se é assim, porque as diferenças do outro podem nos assustar
tanto. O texto “Sobre crocodilos e avestruzes: falando de diferenças físicas,
preconceitos e sua superação", de Lígia Assumpção Amaral nos fala sobre isso. As
metáforas dos avestruzes e crocodilos utilizadas pela autora, nos levam a
refletir sobre a complexidade da questão em nosso mundo. A escrita de Lígia nos
acorda para a visão e o conceito que temos do diferente e nos faz perceber que
o diferente não é aquilo que é, mas antes de tudo o que vemos e o que é vemos é
limitado e limitante, se restringindo apenas à nossa observação rápida e
centrada na diferença do indivíduo.
Reflitamos
sobre o que realmente é ser diferente? Porque diferente e deficiência são e
tornaram-se sinônimos? Que preconceitos colaboram e atestam essa correlação? A
autora conceitua como diferença significativa aquilo que entendemos como fora
de padrões ideais de uma sociedade e de uma cultura. O texto criativo e ao
mesmo tempo complexo, nos empurra o tempo todo para a reflexão sobre o amplo
tratado da problemática do preconceito e do estigma do ser diferente num mundo
conceituado e alicerçado na generalização. Pensar no outro pela diferença é
limitar capacidades e aprisionar o diferente à uma única condição. A incapacidade do outro torna-se o
delimitador de suas capacidades. O preconceito contra o diferente habita em nós
e se manifesta de diferentes formas e sentimentos.
Generalizamos,
odiamos, evitamos contato e contágio, nos compadecemos, correlatamos
linearmente a dificuldade, compensando a diferença com a generalização de uma
característica, qualificamos o indivíduo como incapaz, em eterna desvantagem, pré-conceituamos
o sujeito pela sua característica e pela sua diferença. Como professores, nos
tornamos repetidores da estigmatização do diferente e das diferenças. Quando
nos compadecemos do diferente o restringindo ao merecimento da pena pelo que
não pode realizar da forma como pretendemos, como se houvesse uma única forma
de aprender. Quando negamos ao sujeito sua capacidade e seu direito de ser o
que é e fazer o que pode fazer do seu jeito. Quando subestimamos a capacidade
do aluno diferente e focamos no negativo, antevendo e limitando seu avanço.
Quando evitamos confrontar falas e atitudes preconceituosas nos outros alunos e
em nossos pares. Quando evitamos questionar e confrontar o preconceito que
habita em nós mesmos. Quando deixamos a rápida visão cegar nosso olhar sobre o
outro. Quando paramos de refletir.
Não há uma solução pronta para acabar com todos estes preconceitos
e ideias preestabelecidas do diferente, mas podemos contribuir para transformar
essa visão das coisas que envolvem as diferenças com o nosso trabalho
pedagógico, com o diálogo envolvendo a participação de toda a comunidade
escolar, educando nosso olhar para ver além da diferença e refletindo continuamente
na busca de soluções. Talvez assim, possamos acordar do pesadelo de nossos
preconceitos e todas as espécies de conceitos, sentimentos e
sentidos possam coexistir de outra forma: avestruzes, crocodilos e homens.
REFERÊNCIAS:
AMARAL, Lígia Assumpção. Sobre crocodilos e avestruzes: falando de
diferenças físicas, preconceitos e sua superação, de Lígia Assumpção Amaral
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