"É fundamental diminuir a distância
entre aquilo que se diz e aquilo que se faz. De tal maneira que num dado
momento, a tua fala seja a tua prática." (Paulo Freire)
O semestre está quase terminando e mais uma vez vamos nos apercebendo da importância da interdisciplinaridade e de como o diálogo e a costura entre as disciplinas que nos são oferecidas, são essenciais para nossa aprendizagem. Os assuntos abordados podem ser os mesmos, mas sempre tratados e orientados de forma diferente o que amplia nossa visão sobre os tópicos e exercita nosso olhar de uma forma abrangente tanto para nosso estudo, quanto para nosso trabalho. É o caso da obra e da proposta pedagógica de Paulo Freire que acabou por permear as interdisciplinas de EJA e Didática e Planejamento.
O tema gerador
estimula a troca de saberes através do diálogo que respeita o sujeito e sua
visão do mundo, rompendo com os modelos tradicionais de Pedagogia, onde o aluno
aprende tudo com o professor. Para Freire, todo o ser humano é detentor de
conhecimentos significativos, não importando idade, meio social, grau de
escolaridade, posição política, econômica ou qualquer outra diferença. O
conhecimento consiste no conjunto de saberes que formam a visão de mundo de
cada sujeito cognoscente. O aluno traz sempre uma bagagem de vida que precisa
ser valorizada pelo professor. A escuta é fundamental nesse processo. O
professor precisa ouvir o que o aluno tem para expressar. Antes de ler e
escrever esse aluno diz: quem é, de onde veio, como chegou, o que veio buscar,
o que precisa, o que sonha. Aprender a ler e escrever é objetivo que alicerça
projetos e transformação de vida.
Enquanto na
concepção bancária (...) o educador vai enchendo os educandos de falso saber,
que são os conteúdos impostos; Na prática problematizadora, vão os educandos
desenvolvendo o seu poder de captação e de compreensão do mundo que lhes
aparece, em suas relações com eles não mais como uma realidade estática, mas
como uma realidade em transformação, em processo (FREIRE, 1993, p. 71)
Trabalhar com
temas geradores é impregnar os sentidos do aluno e se deixar impregnar pelos
próprios sentidos. O outro e o mundo se tornam reais. Experenciar é fundamental
nessa prática e Freire nos emociona ao relatar como aprendeu a ler o mundo
pelos sentidos e pela curiosidade das coisas do mundo. A curiosidade provoca a
busca pela solução dos problemas, a realidade provoca o pensamento crítico e o
debate, a pergunta provoca resposta. Essa resposta não divide saberes, nem os
prioriza, mas os soma em construção. O professor não planta uma ideia, ele
colhe. Antes de ensinar a ler, aprende ele mesmo, a ler seu aluno.
O
que Paulo Freire faz de tão revolucionário é articular de forma coerente, a
epistemologia construtivista com a realidade da vida e as possibilidades humanas
de aprender e agir sobre o mundo. É gerar algo novo. É ser gerador:
“Na
proposta de Freire não há remendos, à semelhança de outras visões que concebem
a interdisciplinariedade a partir da justaposição das disciplinas isoladas. Ao
contrário, a metodologia dos Temas Geradores é ela mesma originariamente
interdisciplinar, alimentada pela essencial dialogicidade que dialetiza a
produção do conhecimento desde a suas raízes mais originárias.” (ANDREOLA,
1993)
REFERÊNCIAS:
ANDREOLA,
Balduino A. O Processo do Conhecimento
em Paulo Freire. Educação e Realidade, Vol.18, nº1, p. 32-45/1993.
FREIRE,
Paulo. Pedagogia do oprimido. São
Paulo: Paz e terra, 1993.
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