quinta-feira, 19 de dezembro de 2019

O Tempo da Criança

               Na postagem "Dançando na chuva" embasada no texto “Corporeidade: Uma complexa trama transdisciplinar, de Clézio Gonçalves, trago uma reflexão necessária sobre a essencial integração de todos os sentidos no processo de construção do conhecimento e também na estrutura das nossas emoções. 

            A reflexão diz da necessidade de autonomia para a infância, de liberdade do brincar, ser, existir e experenciar a vida,  do corpo como expressão de linguagem e sentido da criança. Se falamos em ter um olhar diferenciado para a infância, é necessário que tenhamos também um olhar diferenciado para o tempo da infância.
A criança tem um tempo diferente do tempo do adulto. A criança não opera com a ordem cronológica das coisas (passado, presente e futuro). Esse tempo do relógio como o conhecemos, vai sendo imposto para a criança por nós adultos e aos poucos ela vai tentando se adaptar a esse tempo. 

Como se dá o início do processo da construção do tempo no pensamento infantil e como a criança pensa e se coloca no tempo? Para lidar plenamente com o tempo é preciso compreender as formas de medição do tempo. O que querem dizer os números do relógio e qual o sentido do ciclo dos dias no calendário? A criança vivencia de forma intensa esse processo e embora não compreenda a medição exata do tempo ela o percebe, sente e vive intensamente.

O começo de construção do tempo para a criança acontece quando ela passa a perceber que os fatos acontecem em uma sequência e que têm uma duração (antes, agora e depois - passado, presente e futuro). O tempo para a criança pequena não está fora dela, no relógio de pulso, na parede ou na folha do calendário, mas dentro dela. É o tempo do que ela vive, sente, representa, imagina e quer ser. É um tempo do agora, do antes e do depois, mas sobretudo o tempo do quando, como traduz a poesia de Manoel de Barros:


Eu não amava que botassem data na minha existência. A gente usava mais era encher o tempo. Nossa data maior era o quando. O quando mandava em nós. A gente era o que quisesse só usando esse advérbio. Assim, por exemplo: tem hora que eu sou quando uma árvore e podia apreciar melhor os passarinhos. Ou: tem hora que eu sou quando uma pedra. E sendo pedra eu posso conviver com os lagartos e musgos. Assim: tem hora que eu sou quase um rio. E as garças me beijam e me abençoam. Essa era uma teoria que a gente inventava nas tardes. (Manoel de Barros, – Memórias Inventadas: a infância, 2005).


        A poesia de Manoel de Barros nos fala deste tempo da infância que é o tempo do quando, mas como conciliar na Escola de Educação Infantil, o tempo do quando com o tempo da realidade escolar? Como encher de quando, o tempo que já está cheio com o tempo da rotina? O tempo do quando e o tempo do relógio da escola são opositores um do outro? O quando e a rotina escolar podem coexistir sem perda alguma para ambos? 

REFERÊNCIAS:

BARROS, Manoel. Memórias Inventadas: A Segunda Infância. São Paulo: Planeta, 2005. 





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