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Estamos estudando na interdisciplina de Psicologia da Vida Adulta diferentes questões do ser adulto. Nosso grupo terminou a pesquisa sobre a aprendizagem na EJA. Destaco aqui a questão do preconceito que envolve o aludo da EJA. É interessante perceber a capacidade do ser humano de se reinventar e foi isso que tentamos mostrar em nosso trabalho: essa força humana que caída por si ou derrubada por inúmeras causas é capaz de girar sobre si mesma e sobre o mundo, transformando a vida e criando novos caminhos e possibilidades. A EJA é uma tradução dessa capacidade de se reinventar.
Os alunos da EJA são extremamente marginalizados, sofrem inúmeros preconceitos, têm vergonha, baixa autoestima, sentem-se solitários e sem perspectivas. As críticas que recebem em relação ao seu “não saber,” acontecem dentro da escola, dentro da comunidade em que vivem e na própria família, que muitas vezes não acredita em seu sucesso de aprendizagem ou precisa deste jovem (e ou) adulto para outra função dentro de casa, no período em que o aluno está na escola. O aluno da EJA é frequentemente motivo de risadas e piadas cruéis. Chamado de “burro” por tantos que o cercam e que o deveriam apoiar, acaba duvidando de si. Esquece que existe uma diferença enorme entre saber ler e escrever (ser alfabetizado) e saber ler o mundo. Não sabe ele mesmo, que a experiência de vida, sua história, cultura e visão do mundo são e serão aliados em sua aprendizagem. É essa bagagem de vida que o aluno traz com ele quando volta para dentro da sala de aula, que vai nortear sua aprendizagem.
Paulo
Freire nos diz que a leitura do mundo precede a leitura da palavra. Mas afinal,
o que é a leitura do mundo? Antes de uma pessoa ser alfabetizada e aprender a
decodificar códigos e símbolos, ela já sabe ler implicitamente, talvez não as
palavras grafadas num livro, mas essa pessoa sabe ler a vida. É na escola que o
aluno da EJA vai buscar a força e a motivação para transformar a vida, cada um
dentro de sua trajetória única, espera da escola, o que nem sempre encontra. Segundo
Naif (2005, p. 402):
[...] a escola muitas vezes encontra dificuldades para
compreender as particularidades desse público, no qual os motivos que os levam
à evasão, ainda no início da juventude, e as motivações que envolvem sua volta
à sala de aula são informações preciosas para quem lida com a questão.
Deixá-los escapar leva à inadequação do serviço oferecido e a um processo de
exclusão que, infelizmente, não será o primeiro na vida de muitos desses
alunos.
A escola precisa olhar para o aluno da EJA. Existe uma diferença entre ver e olhar. Para ver basta abrir os olhos. Olhar precisa de tempo, dedicação, percepção. É no sentido de traçar um olhar não linear para este aluno que traz características diferenciadas que o professor e a escola devem planejar suas metas e definir seus propósitos. Do contrário, o excluído continuará sendo excluído. Não basta abrir as portas da escola e deixar o aluno da EJA entrar. É necessário abrir os olhos para ver esse aluno em toda a sua peculiaridade.
Referências:
NAIFF, L. A. M; SÁ, C. P., &
Naiff, D. G. M. (2005). Exclusão social nas memórias autobiográficas de mães e
filhas [CD-ROM]. In: Anais da IV Jornada Internacional e II Conferência
Brasileira sobre Representações Sociais (pp. 1233-1247). João Pessoa: Editora
da Universidade Federal da Paraíba.
FREIRE, Paulo. A Importância do Ato de Ler: em três artigos que se completam. Editora Cortez. São Paulo, 1998.
TIBURI, Márcia. Aprender a pensar é descobrir o olhar. Artigo originalmente publicado pelo Jornal do Margs, edição 103 (setembro/outubro, 2017).
FREIRE, Paulo. A Importância do Ato de Ler: em três artigos que se completam. Editora Cortez. São Paulo, 1998.
TIBURI, Márcia. Aprender a pensar é descobrir o olhar. Artigo originalmente publicado pelo Jornal do Margs, edição 103 (setembro/outubro, 2017).
Olá Kátia,
ResponderExcluirMuito bom teu texto e as percepções que teu grupo teve a partir das pesquisas realizadas.
A diferenciação entre ver e olhar foi refletida a partir de alguma leitura?
Att,
Tutora Rocheli
Sim,da Márcia Tiburi,vou acrescentar nas referências.
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