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A
recente discussão sobre o tema na interdisciplina de Educação de Pessoas com
Necessidades Especiais provocou debate acirrado e não poderia ser diferente. O assunto
é polêmico e gera polêmica. Necessidade especial não é sinônimo de laudo e não
porque não se perceba as dificuldades ou necessidades especiais das crianças
observadas. Laudo não é obrigação.
Há muito mais envolvido do que o simples fato em si. Envolve não apenas a
criança e suas particularidades, envolve a família e a dificuldade em aceitar a
dura realidade, que significa, na maioria das vezes, um acompanhamento e uma
dependência eterna da criança. Os sentimentos envolvidos são de confronto
emocional extremo para os pais: De um lado, o amor dos pais pelo filho e tudo
aquilo que desejaram e sonharam para criança e do outro, a negação por esse
filho diferente que ninguém planejou, ninguém espera e ninguém sabe como lidar.
Há
ainda a questão do despreparo da escola em lidar com a situação: Por vezes, a escola se cala para evitar o
confronto maior e o choque dos pais, que pode gerar um colapso de enormes
proporções. Deve-se levar em conta também, o apoio insuficiente do governo, em
todos os sentidos, esse apoio é mínimo: tanto para a criança quanto para a família.
Em relação aos educadores, o descaso é total. Não há apoio estrutural humano e
nem apoio emocional. Impotentes diante das situações conflito que surgem na já
estafante rotina da educação infantil, impotentes em estimular a aprendizagem da
criança como sabem que seria o certo e com a falta de apoio da família e da
escola, os educadores adoecem com frequência.
O desgaste sofrido em todas as turmas provoca um ciclo de doenças,
provocadas principalmente pelo stress constante. Adoecem os educadores, adoece
a família, adoece a escola e adoece ainda mais a criança, que nesse turbilhão
de desassistidos, fica ainda mais necessitada de um apoio que não vem, apesar
de ser garantido por lei.
A
inclusão é uma realidade, mas inclusão não é apenas abrir as portas da escola e
do nosso trabalho para as crianças com laudo, crianças com necessidades
especiais sem laudo são também uma realidade, ainda que não registrada
oficialmente. O isolamento delas, a solidão delas, as dificuldades ignoradas
delas, a angústia e o medo delas são nossos também. Somos invisíveis para o governo e reais em
nosso mundo. Essa invisibilidade não quer dizer que a gente apoie o exagero que
inclui laudos precipitados, a propagação de laudos, a segregação da
aprendizagem, a delimitação das possibilidades do sujeito, o laudo como
preconceito, o laudo como rótulo e o laudo como redutor de expectativa e de
possibilidade de aprendizagem. Uma das maiores conquistas da LBI (Lei
Brasileira de Inclusão) é a mudança de entendimento no conceito de deficiência
que agora não se refere mais à pessoa, mas aos espaços deficientes para incluir
a todos. A escola como espaço de educação deveria estar preparada para receber,
atender e educar à todas as crianças, se não está, precisamos rever nossos
conceitos de estrutura e de trabalho.
Referências:
Vídeo:
O papel da escola, do professor e da
educação inclusiva. Professor Carlos Bernardo Skliar. USC TV 2017. Disponível no YouTube.
Reportagem: O bom professor não usa laudo como desculpa. Leandro Beguoci. Revista Nova Escola.
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