Coleta de dados e reflexões sobre as
relações étnico raciais na escola
A
palavra preconceito está definida no dicionário como “qualquer opinião ou
sentimento concebido sem exame crítico”. Todos nós, de uma maneira ou outra,
somos desafiados a trabalhar a questão do preconceito em nossas escolas. Na EMEI
Tio Barnabé, não é diferente. Constantemente surgem ações, questionamentos,
situações, revelações e constatações de que as crianças não são e não estão
imunes aos preconceitos.
Na
turma de M2, onde trabalho atualmente, ao percebermos a intricada relação de
baixa autoestima, de falta de identidade e de conflitos nas relações étnico
raciais, optamos por trabalhar com as crianças no sentido de valorizar a
diversidade. Por isso, não esperava que o censo escolar sobre o dado cor/raça,
mostrasse completamente a real identidade racial das crianças, mas o resultado
encontrado pelo levantamento feito junto às famílias trouxe uma discrepância
muito grande, ainda maior do que eu esperava.
Não
são apenas as crianças têm baixa autoestima em relação a sua cor, mas suas
famílias também. O quadro abaixo revela a imensidão do problema: Dos 125 alunos
matriculados na escola, apenas 8 são declarados como sendo da cor negra. As
famílias declaram 104 crianças como brancas, 10 como pardas, nenhuma como
indígena, nenhuma como amarela, uma família optou por não declarar a raça/cor
da criança e há ainda uma, que identifica a criança como qualificação não
declarada.
QUAL A COR DA TUA COR
O
censo revela: 83% das famílias declaram suas crianças como brancas e apenas 6%
declaram seus filhos como negros. A diferença entre aquilo que é declarado e a
realidade é enorme. Vejamos os dados da turma do M2 declarados pelos familiares
das crianças no quadro acima. Das 21 crianças matriculadas, 20 foram declaradas
como brancas e uma não teve a cor declarada pela família. O preconceito não está apenas na família, nem é apenas
repetido na escola ou na sociedade, o preconceito está internalizado na criança
como pudemos mais uma vez constatar durante nossas rodas de conversa sobre o
assunto. O diálogo constante sobre a cultura e origem familiar contribuiu para
a elaboração de um novo quadro, desta vez, estruturado pela visão das crianças,
das famílias e da professora.
Etnia
|
Dados da Ficha Autodeclarados
|
Visão do Aluno/ Atividade em
aula
|
Perspectiva da Professora
|
Branco
|
20
|
18
|
13
|
Negro
|
0
|
2
|
5
|
Pardo
|
0
|
0
|
2
|
Indígena
|
0
|
1
|
1
|
Não declarado
|
1
|
0
|
0
|
Os dados obtidos
impressionaram não apenas à equipe de trabalho da turma do M2, mas a todos os
educadores da escola. São números que nos empurram para discussão e reflexão
sobre a realidade atual e sobre nossos futuros projetos em relação a esta
questão. Há muito para ser feito sobre as relações étnico raciais na escola e o
primeiro passo nesse sentido, está em ter clareza e conhecimento da realidade
dos números, que não podem e não devem ser ignorados.
A autoestima
que a criança vai desenvolvendo é, em parte, interiorização da estima que se
tem por ela e da confiança da qual é alvo. O que fazemos em sala de aula, o que
dissemos, o que propomos e o que ignoramos, silenciamos ou negligenciamos em
torno dessa questão pode perpetuar preconceitos ou despertar a valorização das
diferenças e da autoestima. A construção da identidade é um processo constante
que envolve sentimentos sobre como o outro nos faz perceber:
(...)os outros fazem-nos sentir, pelas
palavras, pelos olhares, que somos pobres ou aleijados, demasiado baixos ou
demasiados altos, escuros ou demasiados louros, circundados, não circundados ou
órfãos- estas inumeráveis diferenças, mínimas ou significativas, que traçam os
contornos da cada personalidade, forjam comportamentos, as opiniões, os
receios, as ambições, que se revelam muitas vezes eminentemente formativas, mas
que frequentemente nos ferem para sempre. (MALOUF, 2002, p.35)
REFERÊNCIAS:
SECAD-
Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade. Orientações
e Ações para a Educação das Relações Étnico- Raciais. Brasília,
2016.
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