domingo, 6 de dezembro de 2015

Brincar é um jeito de existir

                            Meninos Brincando (Portinari 1955)

Quando falo em infância, a primeira coisa que me vem à cabeça é o brincar. Ao mesmo tempo, se falo em brincar, lembro automaticamente da minha própria infância e das brincadeiras que dela fizeram parte. Pular sapata, jogar bolita, brincar de cabra cega, de subir em árvore, de pega pega, de carrinho de rolimã. Os amigos, as risadas, as conversas. Aprender a contar, a falar, a dialogar, a questionar, a descobrir, a pensar, a sonhar, a viver.  Meu pai fez um jardim secreto para mim e nele vivi meus melhores dias de princesa encantada e grandes aventuras naquela “Terra do Sempre.”
Brincar é um jeito de existir. Essa frase resume a importância do brincar. Brincar é uma linguagem da criança, sua forma maior de expressão. Quando a criança brinca, expressa sua possibilidade de estar no mundo. A criança descobre o mundo brincando: tocando nas coisas, ficando curiosa das coisas e sendo as coisas. O brincar faz a criança transitar entre o mundo da fantasia e o mundo concreto. O brincar é a porta para as potencialidades da inteligência, da criatividade, da flexibilidade e da capacidade do pensar. Tudo isso precisa da liberdade da infância e tem como ingrediente principal o brincar.
Falamos tanto no brincar, mas será que realmente sabemos qual a verdadeira função do brincar, o quanto é importante para a criança a função humanizadora do brincar? Se é através do brincar que a criança se expressa, mostra sua percepção do mundo e é capaz de transformar a realidade. Se é através do brincar que a criança se torna um sujeito capaz de transformar as relações, redefinir papéis, reinventar a fantasia e a realidade e se tornar alguém capaz de lidar com as diferenças, porque então diminuímos a importância do brincar na escola? Se a escola é na teoria, o espaço para o aprendizado, para o desenvolvimento, para a expressão do lúdico e para o brinquedo, porque estamos diminuindo o tempo e o espaço do brincar?
A filosofia do brincar tem que estar na proposta pedagógica da escola. Temos que compreender filosoficamente o que significa o brincar. Precisamos repensar o que chamamos de pedagógico. O que é isso exatamente. É preciso dar um passo à frente. Precisamos repensar teorias e ideias tão difundidas. É preciso transgredir, acrescentar, mudar, reformar. Exatamente como as crianças fazem. Precisamos ter paciência para observar e humildade para aprender com as crianças. Elas falam enquanto brincam. Falam com sua voz, seus gestos, seu corpo, suas expressões, suas diferenças, suas semelhanças, suas inquietações, desejos, alegrias e tristezas. O brincar é revelador, retrata a infância.
O brincar, o desenvolvimento, a aprendizagem e a cultura estão interligados. Brincar é construir e ampliar conhecimentos. O brincar nos ensina a ver o mundo com nossos olhos e através dos olhos dos outros. Mas para ver é preciso enxergar. A escola precisa ser um lugar vivo e atraente, que envolva o brincar, não apenas para nossos interesses de retorno de aprendizagem e de horários rígidos. A escola precisa reencontrar sua própria dimensão que é e deve ser a dimensão da infância.

https://www.youtube.com/watch?v=_lQWGDV81Vs

Um comentário:

  1. Ótima defesa a cerca da importância do brincar na escola. Também acredito que seja muito importante o brincar entrar de vez na escola. Teus argumentos foram muito coesos e acredito ser uma postagem qualificada. Grande abraço!

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