terça-feira, 30 de abril de 2019

A Arte É



Em setembro de 2017, escrevi no blog a postagem "Além da Caverna", sobre o mito da caverna de Platão, falando essencialmente, sobre colocar verdade naquilo que entendemos como é e pode ser a educação. A decisão de realizar com as crianças um projeto que tenha a arte como alicerce trata deste mesmo desejo, de possibilitar que as crianças possam ir além da caverna e que a gente se permita também, ir além da caverna.


A Arte É 
Logo no início do vídeo "Quem tem medo de Arte Contemporânea", temos uma frase que de certa forma, responde a essa pergunta: “A Arte é uma coisa que incomoda. ” É uma afirmação que vale para a Arte como expressão do humano desde sempre.  Desde as pinturas ruprestes até a Arte Interativa dos nossos dias, a Arte sempre incomodou. Faz pensar. Faz sentir. Faz refletir.  É algo que impacta. Mexe com o que tem dentro da gente, com algo que já sabíamos, com coisas que não tínhamos pensado ainda, com o que estava lá dentro e nem sabia, com o que quer sair lá de dentro ou o que queremos guardar.  
No caso da Arte Contemporânea, essa incomodação é mais latente, visceral e palpável. O que é diferente, assusta, provoca, transgride.  É como diz Caetano: “É que Narciso acha feio o que não é espelho.” Por isso, há quem pergunte: Qual o limite da Arte? O que de fato é Arte? Porque a Arte Contemporânea incomoda tanto e muitas vezes não é considerada Arte? Fernando Cocchiarale, curador e crítico de Arte responde: “ A Arte Contemporânea é muito parecida com a vida e maior parte das pessoas espera da Arte uma coisa diferente da vida.”
Os artistas que trabalham com Arte Contemporânea não reproduzem um estilo único. Cada um tem sua forma de expressão e técnica: “A Arte é o resultado de uma objetivação de uma verdade subjetiva.” (Sérgio Camargo) O que todos têm em comum é algo que não se aplica a Arte tradicional, que tem como premissa: não toque, não mecha, não transite. A Arte Contemporânea faz exatamente o contrário dizendo: vem, me sente, chega perto, eu te sinto.
É o que se traduz em ação na Arte de Ana Paula Lima, quando provoca o público com a instalação “Coma-me,” inspirada no trecho do livro de  Lewis Carroll, Alice no País das Maravilhas, onde a personagem se transforma depois de comer um pedaço de bolo. O que dizer da mistura de elementos como tinta, tecido e fotografia retratada pela artista Leda Catunda? É uma costura entre a pintura e o objeto. Uma fundição de ideias.  Adriana Boff, utiliza a fotografia Pin Hole para revelar o olhar que se esconde no escuro, para transformar objetos cotidianos em câmeras fotográficas e mostrar o oculto na geladeira que surpreende o observador.
Esse desassossego da alma provocado pela Arte Contemporânea é vital nos dias que vivemos hoje. A gente espera do mundo e o mundo espera de nós. Nós que temos acesso à tanta comunicação, tantos recursos, tantas possibilidades de fazer, pensar e agir? Nossa inércia é sinônimo da acomodação ao qual nos acostumamos em todos os sentidos de nossa expressão: Política, social, artística e mesmo humana. Todo o dia fazemos tudo sempre tão igual e vem essa moça chamada de Arte Contemporânea nos dar um sacode. Somos na maior parte do tempo, meros observadores. O que falta para sairmos da Caverna de Platão? Na definição de arte da artista plástica Fayga Ostrower, a vida como a Arte exige ação: “A arte é uma forma de crescimento para a liberdade, um caminho para a vida.”  (Fayga Ostrower)

Elida Tessler  
Gosto imensamente da forma como a artista se relaciona com a palavra e propõe novos olhares sobre os objetos do cotidiano. Sua obra “Você me dá sua palavra?” Reúne mais de 5 mil prendedores com palavras escritas, que libertam ao invés de prender, é simplesmente fascinante. Se cada pessoa escreve uma palavra e esta palavra representa o sujeito, cada palavra é única assim como o sujeito que a escolheu.  É o objeto ressignificado como em outra dimensão de si mesmo.
Também admiro a ponte criada pela artista com o universo literário. Na definição de Andréia Martins sobre Elida em A Gramática Particular de Élida Tessler:A artista plástica gaúcha Elida Tessler não sabia, mas seu nome e sobrenome eram como um aviso sobre o futuro: ela leria muito e faria das palavras matéria-prima de sua produção criativa. Iria caçá-las, recortá-las, reescrevê-las, copiá-las, listá-las e, por que não, usá-las para medir o horizonte, refletir sobre o tempo e preencher um deserto?”
Concordo. Um sobrenome que reúne o ato da leitura em diferentes conjugações: lida e ler, só podia mesmo ser algo premonitório. Estava escrito nas estrelas e na certidão de nascimento. Releitura, ressignificado, reinvenção da obra e de si mesma. É o que ela faz na instalação “Horizonte Provável, onde vemos recortados 581 verbos do livro “A Arte no Horizonte do Provável”, de Haroldo de Campos, colados em pratos de porcelana brancos. São verbos no infinitivo que indicam ação, mas não têm tempo. Sem presente, passado ou futuro estamos abertos a possibilidades.

Reflexão e releitura sobre a definição de Arte
A única certeza que tenho é a de que não há uma única definição de arte ou uma definição certa ou errada para Arte. No livro “O que é Arte”, o autor Jorge Coli, nos acorda para o fato de que a Arte não é apenas o objeto, mas o olhar daquele que vê e o tempo em que este olhar está inserido. Continuo acreditando que a Arte é a expressão do ser. Talvez a melhor definição de Arte esteja ligada justamente à indefinição do que vem a ser Arte. A Arte não pode ser definida. Não pode ser limitada. Sendo expressão do ser a Arte é.


REFERÊNCIAS:
COLI, Jorge. O que é Arte. 15ª ed. Editora Brasiliense, São Paulo – SP, 1995 ISBN 85-11-01046-7
O que é arte? Dra. Susana Rangel Vieira da Cunha Publicado no Jornal Cultural KORALLE, Porto Alegre, v. 6, p. 3 , maio 2006.
Vídeo: Quem tem medo de Arte Contemporânea? Encontrado em:
A Gramática Particular de Élida Tessler. Reportagem de Andréia Martins. Encontrado em:

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