Em setembro de 2017, escrevi no blog a postagem "Além da Caverna", sobre o mito da caverna de Platão, falando essencialmente, sobre colocar verdade naquilo que entendemos
como é e pode ser a educação. A decisão de realizar com as crianças um projeto
que tenha a arte como alicerce trata deste mesmo desejo, de possibilitar que as
crianças possam ir além da caverna e que a gente se permita também, ir além da
caverna.
A Arte É
Logo
no início do vídeo "Quem tem medo de Arte Contemporânea", temos uma frase que de certa forma, responde a essa
pergunta: “A Arte é uma coisa que incomoda. ” É uma afirmação que vale para a
Arte como expressão do humano desde sempre.
Desde as pinturas ruprestes até a Arte Interativa dos nossos dias, a
Arte sempre incomodou. Faz pensar. Faz sentir. Faz refletir. É algo que impacta. Mexe com o que tem dentro
da gente, com algo que já sabíamos, com coisas que não tínhamos pensado ainda,
com o que estava lá dentro e nem sabia, com o que quer sair lá de dentro ou o
que queremos guardar.
No
caso da Arte Contemporânea, essa incomodação é mais latente, visceral e
palpável. O que é diferente, assusta, provoca, transgride. É como diz Caetano: “É que Narciso acha feio
o que não é espelho.” Por isso, há quem pergunte: Qual o limite da Arte? O que
de fato é Arte? Porque a Arte Contemporânea incomoda tanto e muitas vezes não é
considerada Arte? Fernando Cocchiarale, curador e crítico de Arte responde: “ A
Arte Contemporânea é muito parecida com a vida e maior parte das pessoas espera
da Arte uma coisa diferente da vida.”
Os
artistas que trabalham com Arte Contemporânea não reproduzem um estilo único.
Cada um tem sua forma de expressão e técnica: “A Arte é o resultado de uma
objetivação de uma verdade subjetiva.” (Sérgio Camargo) O que todos têm em
comum é algo que não se aplica a Arte tradicional, que tem como premissa: não
toque, não mecha, não transite. A Arte Contemporânea faz exatamente o contrário
dizendo: vem, me sente, chega perto, eu te sinto.
É
o que se traduz em ação na Arte de Ana Paula Lima, quando provoca o público com
a instalação “Coma-me,” inspirada no trecho do livro de Lewis Carroll, Alice no País das Maravilhas,
onde a personagem se transforma depois de comer um pedaço de bolo. O que dizer
da mistura de elementos como tinta, tecido e fotografia retratada pela artista
Leda Catunda? É uma costura entre a pintura e o objeto. Uma fundição de
ideias. Adriana Boff, utiliza a
fotografia Pin Hole para revelar o olhar que se esconde no escuro, para
transformar objetos cotidianos em câmeras fotográficas e mostrar o oculto na
geladeira que surpreende o observador.
Esse
desassossego da alma provocado pela Arte Contemporânea é vital nos dias que vivemos
hoje. A gente espera do mundo e o mundo espera de nós. Nós que temos acesso à
tanta comunicação, tantos recursos, tantas possibilidades de fazer, pensar e
agir? Nossa inércia é sinônimo da acomodação ao qual nos acostumamos em todos
os sentidos de nossa expressão: Política, social, artística e mesmo humana. Todo
o dia fazemos tudo sempre tão igual e vem essa moça chamada de Arte
Contemporânea nos dar um sacode. Somos na maior parte do tempo, meros
observadores. O que falta para sairmos da Caverna de Platão? Na definição de
arte da artista plástica Fayga Ostrower, a vida como a Arte exige ação: “A arte
é uma forma de crescimento para a liberdade, um caminho para a vida.” (Fayga Ostrower)
Elida Tessler
Gosto
imensamente da forma como a artista se relaciona com a palavra e propõe novos
olhares sobre os objetos do cotidiano. Sua obra “Você me dá sua palavra?” Reúne
mais de 5 mil prendedores com palavras escritas, que libertam ao invés de
prender, é simplesmente fascinante. Se cada pessoa escreve uma palavra e esta
palavra representa o sujeito, cada palavra é única assim como o sujeito que a
escolheu. É o objeto ressignificado como
em outra dimensão de si mesmo.
Também
admiro a ponte criada pela artista com o universo literário. Na definição de
Andréia Martins sobre Elida em A
Gramática Particular de Élida Tessler: “A artista plástica gaúcha Elida Tessler não
sabia, mas seu nome e sobrenome eram como um aviso sobre o futuro: ela leria
muito e faria das palavras matéria-prima de sua produção criativa. Iria
caçá-las, recortá-las, reescrevê-las, copiá-las, listá-las e, por que não,
usá-las para medir o horizonte, refletir sobre o tempo e preencher um deserto?”
Concordo. Um sobrenome que reúne o ato
da leitura em diferentes conjugações: lida e ler, só podia mesmo ser algo
premonitório. Estava escrito nas estrelas e na certidão de nascimento.
Releitura, ressignificado, reinvenção da obra e de si mesma. É o que ela faz na
instalação “Horizonte Provável, onde vemos recortados 581 verbos do livro “A
Arte no Horizonte do Provável”, de Haroldo de Campos, colados em pratos de
porcelana brancos. São verbos no infinitivo que indicam ação, mas não têm
tempo. Sem presente, passado ou futuro estamos abertos a possibilidades.
Reflexão e releitura sobre a definição de Arte
A
única certeza que tenho é a de que não há uma única definição de arte ou uma
definição certa ou errada para Arte. No livro “O que é Arte”, o autor Jorge
Coli, nos acorda para o fato de que a Arte não é apenas o objeto, mas o olhar
daquele que vê e o tempo em que este olhar está inserido. Continuo acreditando
que a Arte é a expressão do ser. Talvez a melhor definição de Arte esteja
ligada justamente à indefinição do que vem a ser Arte. A Arte não pode ser
definida. Não pode ser limitada. Sendo expressão do ser a Arte é.
REFERÊNCIAS:
COLI, Jorge. O que é Arte. 15ª ed. Editora Brasiliense, São Paulo – SP, 1995
ISBN 85-11-01046-7
O
que é arte? Dra. Susana Rangel Vieira da Cunha Publicado no Jornal
Cultural KORALLE, Porto Alegre, v. 6, p. 3 , maio 2006.
Vídeo: Quem tem medo de Arte Contemporânea? Encontrado em:
https://moodle.ufrgs.br/course/view.php?id=64917 Acesso
em 21/ 04/2019.
A
Gramática Particular de Élida Tessler. Reportagem de Andréia Martins.
Encontrado em:
https://clichetes.com.br/a-gram%C3%A1tica-particular-de-elida-tessler-582c5b63851e
Acesso em 21/04/2019.
Nenhum comentário:
Postar um comentário